Título: Discursos pela unidade
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2011, Política, p. 6

No encontro da juventude tucana em Goiânia, líderes do partido criticam o governo e se dizem afinados entre si

Goiânia — Os discursos ensaiados pregando a unidade do partido durante o Congresso Nacional da Juventude do PSDB em Goiânia não encobriram a polarização interna da legenda entre apoiadores do ex-governador de São Paulo José Serra e do senador Aécio Neves (MG). Apesar do discurso amigável, negando rivalidades, Aécio voltou a encampar a defesa da realização de prévias dentro do partido para as eleições presidenciais de 2014 — gesto equivalente a um desafio a Serra, principal adversário do senador mineiro na disputa pela candidatura tucana ao Palácio do Planalto. O encontro começou ontem e vai até amanhã.

Os dois não chegaram a dividir o palco armado para as estrelas do PSDB no evento. "Em 2013, o PSDB, através de prévias, indicará quem é aquele que empunhará as bandeiras do partido", disse Aécio a jornalistas, ao chegar ao evento, e para a plateia, ao ser entrevistado por membros da juventude tucana. O senador reconheceu ter pretensões de disputar o Planalto em 2014, mas afirmou que uma candidatura, mais do que um pleito, é um "destino". "O PSDB deve fazer uma consulta a mais ampla possível, envolvendo todos os seus filiados", defendeu Aécio, aplaudido pela militância da legenda aos gritos de "prévias já".

O senador mineiro falou para um público que lhe é francamente favorável. Líderes partidários reconhecem, hoje, uma maioria aecista dentro da juventude tucana, e o apoio se refletiu na recepção da plateia a Aécio, disputado para fotos com os militantes e ovacionado em sua chegada ao palco circular montado para as estrelas tucanas convidadas para o congresso.

Mas o tom escolhido pelo mineiro para sua fala foi de conciliação. "Não tem adversário dentro do PSDB, os adversários estão lá fora", pregou Aécio, que se dedicou a traçar, em seu discurso, comparações entre o governo da presidente Dilma Rousseff e a administração Fernando Henrique Cardoso.

Saudado por um coro organizado pela coordenação do encontro, Serra manteve a linha do pronunciamento de Aécio e dos demais tucanos que discursaram para a ala jovem do partido. Em um discurso menos inflamado do que o do colega mineiro, Serra seguiu o receituário do PSDB ao afirmar que o governo Dilma "ainda não começou" e creditou o bom desempenho da presidente nas pesquisas de opinião pública ao trabalho de publicidade do PT. O ex-governador também evitou falar sobre conflitos dentro do partido e, quando perguntado por um militante da plateia, disse ser favorável às prévias "desde que não causem desunião no partido".

Afinado com os colegas de partido, Serra afirmou que o PSDB "não sabe divulgar suas realizações". Antes, Aécio havia defendido uma "refundação" do partido baseada na recuperação de antigas bandeiras tucanas, como o enxugamento da máquina pública e a defesa da responsabilidade fiscal. Criticou o que considera ser o inchaço da estrutura de governo e, no momento em que Dilma Rousseff apresenta aumento de sua popularidade, questionou a validade da "faxina" promovida por Dilma, com a demissão de seis ministros atingidos por denúncias de corrupção.

"Nenhum desses ministros caíram por força de irregularidades apuradas pelo governo. Que faxina é essa?", disse Aécio. "O PT se tornou refém de uma armadilha que criou para si mesmo ao abdicar de ter um projeto de país para ter um projeto de poder."