Título: Crime julgado 13 anos depois
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2011, Política, p. 8

A deputada federal Ceci Cunha estava indo comemorar a diplomação quando foi morta a mando do suplente Talvane Albuquerque, segundo o MPF. Diversos atos públicos realizados ontem marcaram a data

Várias manifestações em cidades brasileiras marcaram a morte da deputada federal Ceci Cunha (PSDB), barbaramente assassinada há 13 anos em Maceió (AL), com o marido e outros dois parentes. O crime aconteceu em 16 de dezembro de 1998, mas somente será levado a júri dentro de um mês e, mesmo assim, depois da intervenção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ceci estava indo a uma comemoração pela diplomação, e foi morta, segundo acusação do Ministério Público Federal, a mando de seu suplente, Talvene Albuquerque, que queria a vaga para adquirir imunidade parlamentar. Os diversos recursos impetrados pelo acusado e a indefinição sobre a competência pelo julgamento do caso foram as principais razões dos constantes adiamentos.

A chamada chacina da gruta tramitou sete anos na Justiça estadual, mas só depois disso ficou decidido que o caso deveria ser tratado pela jurisdição federal, por se tratar de uma deputada. "O caso Ceci demorou por causa de uma infinidade de recursos, desde as primeiras decisões, como a pronúncia. Até que se entendeu que era da Justiça Federal", diz o juiz auxiliar da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Erivaldo Ribeiro dos Santos. "Foram muitas idas e vindas", conta o magistrado. "Isso agora mostra o êxito do Programa Justiça Ampliada, que está monitorando situações como essa", observa Santos.

O juiz se refere às outras datas para o julgamento que haviam sido marcadas anteriormente. A última delas foi 28 de novembro, mas o advogado dos réus pediu que o júri fosse adiado. Ele alegou que tinha compromissos previamente agendados no exterior, para onde iria viajar, e outras agendas pelo Sul do país. Depois de analisar a justificativa da defesa, o juiz André Luis Maia Granja aceitou os argumentos e marcou 16 de janeiro como data definitiva para julgar o caso. São raros os crimes em que a Justiça Federal realiza júri popular, mas quando Ceci foi morta, ele já exercia mandato de deputada.

Com uma data definitiva para o julgamento, a família da deputada e a de seu marido se mostra satisfeitas, apesar dos 13 anos que se passaram entre o crime e o júri. "É muito tempo, mas agora chegou o momento", desabafou Rodrigo Cunha, filho de Ceci e de Juvenal Cunha, que também foi assassinado a tiros em frente à casa de um parente, junto com outras duas pessoas da família. Ontem, ele participou de um ato realizado em Maceió, em protesto contra a impunidade. Outras manifestações aconteceram em Recife, Porto Velho, Curitiba e Palmas.

No Distrito Federal, militantes do PSDB, partido da qual Ceci era deputada, colocaram 13 cruzes em frente ao Congresso, uma forma de lembrar o período em que Talvane Albuquerque ficou sem julgamento. Depois de cassado, ele voltou para Arapiraca, onde chegou a ser secretário de Saúde mesmo depois do crime que abalou o país. Em seguida, deixou o cargo para assumir a direção de hospitais. Ele será levado a júri com os demais suspeitos. Albuquerque chegou a assumir o mandato mesmo sendo acusado pelo crime, mas depois foi cassado logo em seguida. Seus advogados alegam que ele é inocente.