Aloysio ameaçou não tomar posse se Itamaraty ficasse sem a Camex

Maria Lima 

08/03/2017

 

 

Pressionado, Temer devolve órgão de comércio exterior que tirara da pasta

-BRASÍLIA- A posse de Aloysio Nunes Ferreira no Ministério das Relações Exteriores, ontem à tarde, não foi tranquila como aparentam as fotos oficiais. O senador tucano ameaçou não assumir o cargo se a Câmara de Comércio Exterior (Camex) não voltasse ao comando do Itamaraty. O órgão tinha sido tirado do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), no ano passado em negociação do presidente Michel Temer para que o ex-ministro José Serra (PSDB-SP) assumisse o Itamaraty. Com a saída de Serra, Temer cedeu à pressão do titular do Mdic, Marcos Pereira (PRB), e de setores da Indústria, e na segunda-feira assinou um decreto devolvendo a Camex à pasta. Ao saber da mudança sem ser consultado, Aloysio reagiu com irritação e se negou a assumir um Itamaraty esvaziado.

À tarde, antes da posse, em edição extraordinária do Diário Oficial da União, Temer publicou outro decreto anulando o anterior e mantendo o órgão no Itamaraty. Empossado, o ministro Aloysio Nunes admitiu ter pedido a Temer mais tempo para fazer uma transição, se mantiver a decisão de atender à pressão do ministro Marcos Pereira.

— Eu pedi ao presidente Temer e ao ministro Marcos Pereira mais tempo para que façamos uma transição gradual, com tranquilidade. A decisão está nas mãos do presidente Temer. O importante é que essa seja uma transição tranquila. Os técnicos do Ministério do Desenvolvimento e do Itamaraty trabalham numa sintonia muito boa. A localização topográfica da Camex é o de menos. O importante é o trabalho que vai ser executado pelo órgão — disse Aloysio.

Senadores tucanos explicaram que, na conversa com Temer, Aloysio explicou que estão em andamento várias ações da Camex junto ao Ministério das Relações Exteriores, justamente para ajudar na aceleração de retomada de investimentos estrangeiros.

O novo chanceler brasileiro avaliou que nenhum desafio que tem pela frente é pequeno. Prometeu fazer valer a voz do Brasil nos fóruns de meio ambiente, econômicos e de democracia. Hoje, ele viaja para a primeira reunião de chanceleres do Mercosul, onde a pauta é conjuntura e a convergência entre o bloco e os países que integram a aliança do Pacífico.

SERRAGLIO AJUDOU AMIGO

O novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio, também tomou posse ontem e voltou a dizer que não interferirá na Lava-Jato. O peemedebista afirmou que não acha “nada” da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, porque a desconhece, e tentou esclarecer uma declaração sua sobre sigilo em investigações de corrupção.

Para defender a abertura do sigilo em determinados casos, o novo ministro disse, sem dar detalhes, que já tentou ajudar um colega parlamentar a ter conhecimento do que pesava sobre ele:

— Pode haver nomes que estejam na Lava-Jato e que se desconheça efetivamente qual o fato, o seu comprometimento, com as coisas da Lava-Jato. Eu conheço um parlamentar, em relação ao qual eu fui umas quatro ou cinco vezes pedir que fosse examinado o caso dele, porque apareceu o nome dele numa lista de um partido e ele sempre votou contra o partido. (Ele disse): “sempre votei contra e agora bota na lista e a imprensa repete meu nome e eu estou sujo”. Faz um ano que está pedindo que abram. Tem horas que é importante que abra.

 

O globo, n. 30529, 08/03/2017. País, p. 6