Simone Iglesias
Júnia Gama
15/03/2017
Um eventual aprofundamento da crise política atingindo de forma mais certeira o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é o que mais causa incômodo ao presidente Michel Temer. A avaliação de peemedebistas é a de que o ministro acertou na estratégia de ficar em silêncio e de responder só em juízo.
Segundo um integrante da cúpula do PMDB, o caso de Padilha deverá se perder entre dezenas de outros que começaram a aparecer ontem, com os pedidos de abertura de inquérito. Assim como a cúpula peemedebista, o ministro teve sua decisão respaldada pelo presidente Michel Temer.
Caciques do PMDB avaliam que uma saída do ministro da Casa Civil neste momento seria desastrosa para o governo e, especialmente, para Temer, por ser seu amigo mais próximo e não haver substituto que garanta a interlocução política tanto no Executivo quanto no Congresso. O ministro retomou sua rotina normal de trabalho, com foco em reuniões sobre a reforma da Previdência, mas também recebendo congressistas que lotam sua agenda.
Uma opção que está em discussão é reduzir os afazeres de Padilha para que se concentre nos debates da Previdência, deixando o “varejo” — destinação de emendas e cargos, por exemplo — com o novo ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e até para o próprio presidente, que gosta de receber políticos.
CITADO POR TRÊS DELATORES
Alvo de denúncias da Lava-Jato, Padilha voltou, na última segunda-feira, de um período de 17 dias de licença médica e se negou a responder às acusações de que recebeu e intermediou recursos da Odebrecht para campanhas do PMDB, inclusive em dinheiro vivo.
O ministro foi citado por três delatores da Odebrecht sobre o repasse de R$ 10 milhões para o PMDB, em 2014. Um deles, o ex-diretor José de Carvalho Filho, afirmou que Padilha tratou diretamente sobre o pagamento de R$ 4 milhões ao PMDB, a ser efetuado em parcelas e em endereços indicados pelo ministro.
O advogado José Yunes, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, declarou ter recebido das mãos do doleiro Lúcio Bolonha Funaro um “pacote” destinado a Padilha. O pedido para que ele recebesse o material, durante as eleições de 2014, teria sido feito diretamente pelo ministro da Casa Civil. Recentemente, o depoimento veio a público, e Yunes disse que foi usado como “mula” por Padilha.
O globo, n.30536 , 15/03/2017. País, p.5