PEZÃO VOLTA ATRÁS DE NOMEAÇÃO QUE BENEFICIARIA EDUARDO CUNHA

15/03/2017

 

 

Escolha de ex-deputada poderia tirar peemedebista das mãos de Moro

 O governador Luiz Fernando Pezão voltou atrás, ontem, da nomeação da ex-deputada Solange de Almeida, aliada do ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso por decisão do juiz Sérgio Moro, para a recém criada secretaria de Proteção e Apoio à Mulher e ao Idoso.

A nomeação de Solange foi revista depois que o Ministério Público Federal (MPF) comunicou o governador que ela foi condenada em segunda instância por ato de improbidade administrativa. Caso ela ocupasse o cargo, ganharia foro privilegiado nas investigações e só poderia ser investigada com autorização do Tribunal Regional Federal (TRF 2).

Solange é ré numa ação junto com Eduardo Cunha e, caso fosse mantida a nomeação, o processo contra o exdeputado peemedebista sairia das mãos do juiz Sérgio Moro e migraria para o TRF 2.

Cunha é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele teria recebido propina de lobistas de pelo menos US$ 5 milhões, oriunda de contrato de aquisição de navios-sonda pela Petrobras junto ao estaleiro sul-coreano Samsung. Para isso, teria contado com a ajuda de Solange Almeida, também ré na ação penal e acusada de corrupção passiva.

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PRESSÃO POR PROPINA

Segundo os procuradores, quando Solange ainda era deputada federal, em 2011, apresentou requerimentos, a pedido de Cunha, na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara com o objetivo de pressionar para pagamentos da propina. Cunha e Solange negam as acusações. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal acolheu denúncia contra os dois.

Solange foi prefeita de Rio Bonito até o ano passado, quando decidiu não concorrer à reeleição. Quase na mesma época da campanha, o MPF apresentou denúncia contra os dois. A peemebedebista alegou, no entanto, motivos pessoais para ter ficado de fora do pleito.

A nova secretaria foi criada em meio à maior crise fiscal já vivida pelo estado, apesar de Pezão alegar que não seriam criados novos gastos com a pasta. Apesar disso, só o salário da secretária já geraria um custo mensal de R$ 16.579,00.

Na segunda-feira, Pezão havia justificado a nomeação dizendo que não se pode “criminalizar todo mundo”.

— A gente não pode sair criminalizando todo mundo que hoje tem uma acusação, senão, não vai sobrar ninguém — disse o peemedebista.

O governador negou ainda ter qualquer vínculo com Eduardo Cunha e afirmou que o convite feito a Solange para integrar o governo é antigo, da época em que era vice-governador de Sérgio Cabral:

— Quanto à questão dela estar respondendo a processo, isso eu também estou. Assim como eu, ela tem direito a se defender. Enquanto não for condenada, acho que ela pode me ajudar muito na administração do estado.

O globo, n.30536 , 15/03/2017. País, p.10