Título: Dilma aposta em crescimento de 5%
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2011, Economia, p. 16

Presidente diz que o Brasil reúne condições, como crédito e mercado interno, para superar a recessão internacional

A presidente Dilma Rousseff demonstrou otimismo ontem com as possibilidades de crescimento do Brasil em 2012, apesar da continuidade dos sinais de deterioração do ambiente econômico externo. "O meu cenário é entre 4,5% e 5% (de crescimento do Produto Interno Bruto). A minha meta é cinco, a meta do Guido (Guido Mantega, ministro da Fazenda) é cinco", afirmou a presidente, durante café da manhã de confraternização com jornalistas no Palácio do Planalto.

Ela também aposta numa diminuição dos níveis inflacionários, que devem se aproximar do centro da meta estipulado pelo governo. "Nós temos certeza que a inflação ficará sob controle, fazendo aquela curva suave, porque não fará diferença nenhuma se ela estiver em 5%, com a meta de 4,5%", declarou.

Segundo Dilma, o país reúne vários fatores que permitem projetar um futuro mais promissor daqui para a frente. Um deles é a possibilidade de expandir a oferta de crédito, sem que isso signifique descontrole nas contas públicas. "Ao contrário dos outros países, que, quando a coisa aperta, têm de recorrer ao orçamento e ampliam o deficit, nós não precisamos disso. Temos os depósitos compulsórios (dos bancos no Banco Central)", observou.

A presidente ressaltou como o volume de crédito cresceu nos últimos anos para mostrar que a situação brasileira está mais cômoda. "Nós passamos de algo como R$ 400 bilhões, no fim de 2002, — para R$ 1,94 bilhão hoje."

Disse ainda que o Brasil tem margens confortáveis, se comparado aos países em maior dificuldade, para usar a política monetária, reduzindo juros, no combate à crise. "Eles já estão praticando taxas de 0,5%, de 1%, ou até zero", enfatizou.

Modelo De acordo com a presidente, o governo deve repetir o modelo adotado na crise de 2009, quando priorizou os dispêndios públicos e o mercado consumidor interno para superar a recessão internacional. "Nós temos uma capacidade de investimento que devemos explorar às últimas consequências, tanto do ponto de vista do governo quanto da iniciativa privada", disse, lembrando que o IBGE está revisando o nível de investimentos de 2009, que deve ter chegado a aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB). "Mas, para o Brasil ficar muito bem, nós temos de alcançar uma formação bruta de capital fixo (taxa de investimento em relação ao PIB), em torno dos 24 ou 25%. Esse vai ser um esforço crescente que, ao longo do meu período de governo, eu vou perseguir", prometeu.

A presidente afirmou que osrecursos públicos serão fundamentais para atender às demandas reprimidas da nova classe média, que emergiu socialmente e exigirá do Estado a prestação de serviços de qualidade, sobretudo nas áreas de saúde e educação. Segundo ele, "esse é um desafio que cabe ao governo enfrentar, cabe aos nossos funcionários, aos médicos, aos professores".

Dilma discordou das afirmações, veiculadas nos últimos dias, de que o Brasil esteja em processo de desindustrialização. "Nossa indústria não foi sucateada. Este governo, como o do presidente Lula, tem política industrial. Nós não somos mais daquela época em que isso era vergonhoso", frisou. Destacou, contudo, que nem todas as empresas estão no mesmo nível. "Nós mantivemos algumas quase intactas, em outras faltam elos, outras têm um nível de integração internacional — é normal que assim seja —, outras vão ter de, progressivamente, agregar valor no Brasil."

Ela salientou ainda que as informações sobre a crise mundial se modificaram ao longo do ano. No início do seu mandato, em janeiro, o panorama não era tão nebuloso quanto hoje. "Esperava-se que os Estados Unidos tivessem uma pequena recuperação. Não se tinha noção ainda nem do tamanho, nem da envergadura, nem da duração da crise europeia."

A mudança de perspectivas obrigou o governo a tomar uma série de medidas de austeridade fiscal para fortalecer as contas públicas. "Nós estabelecemos que faríamos um superavit cheio (sem descontos contábeis) e fizemos. Vamos atingir sem nenhum problema os R$ 91,7 bilhões que correspondem à parte da administração centralizada", disse.

Conforme a presidente, a parceria com os demais integrantes dos Brics — Rússia, Índia e China — é estratégica para que o Brasil enfrente o momento de turbulência, pois todos têm como característica o fato de serem nações de dimensões continentais. Ela ressaltou ainda que o país continua recebendo, em doses crescentes, investimentos diretos de origem externa. "Há uma confiança no Brasil, não em termos especificamente desse momento, mas em termos do papel que a economia brasileira ocupará no cenário internacional nos próximos anos. Então, é algo de que a gente fica orgulhoso."

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