NOVO PRESIDENTE DA VALE VIRÁ DA KLABIN

Danielle Nogueira

João Sorima Neto

28/03/2017

 

 

Escolha de Fabio Schvartsman para comandar mineradora agrada a acionistas e tem a bênção do Planalto

Um mês depois do anúncio oficial de que Murilo Ferreira deixaria a presidência da Vale, o Conselho de Administração da mineradora elegeu ontem Fabio Schvartsman, atual diretorgeral da Klabin, para substituí-lo. Seu nome, que surgiu a partir de lista elaborada pela empresa internacional de recrutamento Spencer Stuart, agradou aos acionistas — pelo perfil técnico — e teve a bênção do Palácio do Planalto, segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim.

Entre outros sondados pela Spencer estavam Vasco Dias, exexecutivo da Shell, e Marcos Lutz, vice-presidente do Conselho de Administração da Comgás. A Spencer foi contratada pela Vale em março e começou a peneirar nomes de fora do setor de mineração, para assegurar a visão de que a escolha seria técnica, sem influência política.

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NEGOCIAÇÃO COM BB E BRADESCO

A grande preocupação dos acionistas era que o novo presidente da Vale tivesse credibilidade junto ao mercado para liderar a transição da empresa para o Novo Mercado, o mais alto nível de governança da BM&FBovespa. Pelo novo acordo de acionistas, proposto em fevereiro e que ainda tem de ser aprovado em assembleia, a Vale deixará de ter bloco de controle.

Hoje, a Vale é controlada pela Valepar, que detém 54% das ações com direito a voto. Integram a Valepar os fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Fundação Cesp, reunidos na Litel. Além deles, a BNDESPar, a Bradespar e a japonesa Mitsui compõem a holding. Nenhum dos acionistas quis comentar a eleição de Schvartsman. Em nota, a Vale disse que Schvartsman foi eleito “em conformidade com as normas e governança da companhia”.

Além da transição para o Novo Mercado, o novo presidente terá o desafio de manter a trajetória de redução do endividamento da Vale e solucionar a questão da Samarco, empresa da que e Vale é sócia e que desde o acidente em Mariana, em novembro de 2015, não voltou a operar. A seu favor, estão os bons ventos do mercado, com a cotação do minério de ferro retornando a patamar de US$ 90 a tonelada.

O anúncio do novo presidente da Vale surpreendeu o mercado pela rapidez e pela escolha de um nome que ainda não havia sido alvo de rumores. Segundo fontes, a família Klabin só teria sido comunicada de que Schvartsman teria sido escolhido ontem pela manhã. Coube ao presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, e do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, fazer essa intermediação.

Caffarelli e Trabuco estavam conduzindo o processo de sucessão da Vale pessoalmente. Segundo o colunista do GLOBO, Lauro Jardim, a Spencer teria selecionado 20 nomes e os levou aos dois executivos, que depuraram a lista e chegaram ao nome de Schvartsman. O nome também era o que mais agradava ao Palácio do Planalto, de acordo com o colunista. Tradicionalmente, o Bradesco aponta o presidente da Vale e a Previ, o presidente do Conselho.

Schvartsman, de 63 anos, nasceu em São Paulo e vai assumir a Vale no fim de maio, quando termina o mandato de Ferreira. Pelas regras da mineradora, que costuma afastar seus diretores executivos quando completam 65 anos, terá apenas um mandato de dois anos.

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ESTRANHO NO NINHO

O executivo será, mais uma vez, um estranho no ninho. Da mesma forma que nunca atuou no setor de mineração, não havia passado pelo setor de papel e celulose quando assumiu a diretoria geral da Klabin, em fevereiro de 2011.

Graduado e pós-graduado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV, ele chegou a presidir a Telemar Participações e teve passagem pela Duratex. Mas foi no grupo Ultra, onde trabalhou por 22 anos, que fez sua carreira. Lá conduziu, em 1999, o plano de abertura de capital da holding Ultrapar, a primeira empresa do país a ter tag along (mecanismo que garante direitos a controladores e minoritários), o que lhe trouxe admiração no mercado de capitais.

Sua gestão na Klabin é elogiada por executivos do setor e analistas de mercado. Sob sua liderança, a Klabin migrou para o nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa e tirou da gaveta o seu mais ambicioso projeto: a construção de uma gigantesca unidade de R$ 8,5 bilhões no Paraná, que começou a produzir em março do ano passado.

Com a nova unidade, a Klabin voltou a exportar celulose, algo que deixara de fazer em 2003. No ano passado, a Klabin teve lucro líquido de R$ 2,4 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 1,25 bilhão de 2015. A receita líquida da empresa foi de R$ 1,9 bilhão. Em nota, a Klabin disse que, até que seja decidido o executivo que ocupará o cargo de diretor-geral, a companhia segue “com visão na estratégia de crescimento e na execução das metas dos negócios”. “Nosso desempenho está baseado em um modelo de negócio único, sustentável, rentável e estruturado ao longo de 118 anos de história”, afirmou na nota Paulo Sérgio Coutinho Galvão Filho, presidente do Conselho de Administração da Klabin.

O globo, n.30549 , 28/03/2017. Economia, p.19