TEMER DEVE SANCIONAR TERCEIRIZAÇÃO SEM VETOS

Geralda Doca

28/03/2017

 

 

Ajustes no tema ficarão para o texto da reforma trabalhista
 
O governo pode mudar sua abordagem em relação à regulamentação da terceirização. Em vez de esperar a aprovação de um segundo texto sobre o tema que tramita no Senado e levar à sanção do presidente Michel Temer um mix deste com o projeto aprovado na Câmara, Temer assinaria a lei tal como foi aprovada pelos deputados na semana passada, ou seja, sem vetos. E os temas mais importantes para os trabalhadores e mais sensíveis do ponto de vista da arrecadação de tributos seriam definidos na reforma trabalhista. O relator da reforma trabalhista na Câmara, deputado Rogério Marinho (PSDBRN), já abriu o caminho para esta ideia.
 

Marinho disse ao GLOBO que poderá incluir, no seu relatório, medidas de salvaguardas aos trabalhadores e à União no processo de terceirização.

— Não vejo dificuldade em incluir essas medidas no meu relatório. Elas vão aperfeiçoar a lei, assegurando os direitos aos trabalhadores, maior conforto à União em termos de arrecadação, além de aumentar a segurança jurídica do processo — afirmou o relator.

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PREOCUPAÇÃO COM REFORMAS

O presidente Michel Temer poderá sancionar o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada, que permite a terceirização em todas as atividades das empresas privadas e no setor público, sem salvaguardas para os trabalhadores e à União. O texto também mantém a responsabilidade subsidiária: caso o trabalhador não tenha seus direitos pagos, precisa primeiro acionar a prestadora de serviços e, só depois, caso não haja pagamento, processar a empresa contratante. A decisão deve ser tomada hoje, após o Palácio do Planalto ouvir parlamentares da base governista da Câmara e do Senado.

Segundo Marinho, a decisão de incluir as salvaguardas na reforma trabalhista é importante, para tirar da pauta do governo as discussões sobre a terceirização — que já passou pela Câmara. A preocupação, agora, destacou, é com as reformas da Previdência e trabalhista e, por isso, é preciso ter foco.

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PRESSÃO DA BASE ALIADA

Além disso, Temer está sendo pressionado por sua base aliada a transformar logo em lei o projeto aprovado pela Câmara diante do risco de que a proposta do Senado, relatada pelo senador Paulo Paim (PT-RS), seja desfigurada. O texto também permite a terceirização nas chamadas atividades-fim (negócio principal da empresa), mas nem o relator nem as centrais sindicais aceitam essa possibilidade.

— As centrais sindicais têm muita penetração nas redes sociais e, portanto, há risco de que o projeto da terceirização seja desfigurado no Senado — avaliou um interlocutor do Planalto.

Outro fator de pressão é o pouco tempo — entre o prazo legal de 15 dias para sancionar o projeto aprovado pela Câmara e a tramitação do projeto do Senado, que ainda não deu nenhum passo. Pelo rito normal, ele teria de ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e depois pelo plenário da Casa, sem alterações. Somente um acordo entre os líderes poderá acelerar esse trâmite.

Entretanto, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMBD-CE), disse ao GLOBO que o projeto seguirá o rito normal — que, segundo ele, vai além dos quinze dias. Se alguém pedir vista, explicou, terá de ser atendido:

— Acho que não haverá tempo suficiente para que os dois projetos sejam sancionados pelo presidente Temer de forma conjunta.

O senador Paim afirmou que os partidos da oposição já estão preparados para pedir vista, caso o governo insista na aprovação da matéria sem alteração.

— Se isso acontecer, vai ser uma guerra na comissão. Fiquei com esse projeto por um prazo de um ano, visitei todas as assembleias estaduais, e ninguém concorda com a terceirização na atividade-fim — observou Paim.

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SEGURO PAGO PELAS CONTRATANTES

O relator da reforma trabalhista, Rogério Marinho, destacou que pretende, ainda, incluir a cobrança de seguro por parte das contratantes, evitando, assim, eventuais problemas com as prestadoras de serviço em cumprir suas obrigações, tanto em relação aos trabalhadores, quanto à União, no que diz respeito ao recolhimento de impostos e contribuições.

O governo também quer maior empenho das empresas para fiscalizar se as prestadoras estão em dia com o direitos trabalhistas e, em caso de irregularidades, autorização para reter o pagamento da fatura. Essa medidas estão previstas no projeto que tramita no Senado.

De acordo com Marinho, a previsão é aprovar a reforma trabalhista no plenário da Câmara dos Deputados entre o fim de abril e início de maio. Ele pretende apresentar o relatório na comissão especial que discute o tema no dia 12 de abril.

 

O globo, n.30549 , 28/03/2017. Economia, p.20