Danilo Fariello
28/03/2017
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou ontem que os técnicos do governo já recolheram 174 amostras de carnes e derivados produzidos pelos 21 frigoríficos envolvidos na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Segundo ele, dos 12 laudos prontos, nenhum apresentou perigo ao consumo humano.
— Se houver, nós vamos dizer, mas não há, até este momento, em tudo que recolhemos, qualquer tipo de anormalidade que possa fazer mal à saúde humana no consumo desses produtos — disse Maggi.
Em outra frente, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, determinou que o frigorífico Peccin recolha todos os produtos provenientes da unidade de Jaraguá do Sul (SC), cujo SIF é 825. O local estava interditado desde o dia 17 de março, quando foi deflagrada a operação da PF. Conforme a Senacon, a auditoria realizada pelo Ministério da Agricultura detectou que o estabelecimento da Peccin não detém gerência dos processos relacionados a controle de matéria-prima, formulação e rastreabilidade de seus produtos.
A nova determinação de recall se soma às feitas na última sexta-feira, para as empresas Souza Ramos (SIF 4040), de Colombo (PR); Transmeat (SIF 4644), de Balsa Nova (PR); e Peccin (SIF 2155), de Curitiba. Caso seja confirmado o risco à saúde e à segurança do consumidor, e a empresa não comece o recall ou demore a iniciá-lo, podem ser aplicadas as sanções estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor, inclusive multa, em valores que podem chegar a R$ 9 milhões.
Dos 21 frigoríficos alvos da Operação Carne Fraca, o Ministério da Agricultura já interditou seis unidades: um da BRF, em Mineiros (GO); duas da Peccin, em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba (PR); uma da Souza Ramos, em Colombo (PR); uma da SSPMA, em Sapopema (PR); e uma da Farinha de Castro, em Castro (PR). Entre as falhas que levaram à interdição, estão inclusão de água em frango e de amido em carne além dos limites permitidos. Também foi encontrada ração com carne vencida.
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INDICAÇÕES POLÍTICAS SÃO MAIORIA
Maggi disse que continua intervindo politicamente junto a mercados externos para evitar maiores prejuízos à venda de carnes pelo Brasil ao exterior. Segundo ele, é preciso que as instituições nacionais recuperem a confiança perdida.
Também ontem, superintendentes regionais do Ministério da Agricultura se reuniram em Brasília, para debater melhorias no sistema de fiscalização. Segundo o ministro, das 27 superintendências, 17 são ocupadas por indicados políticos. E aqueles que são servidores de carreira, reconheceu Maggi, também se articularam politicamente para ascender a seus postos:
— Se isso é um defeito do ministério, é um defeito da política brasileira.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, na quarta semana de março, a média diária exportada de carnes caiu 19% em relação ao mês anterior. No fim da terceira semana, foi deflagrada a Operação Carne Fraca. Até a terceira semana de março, a média diária de exportação em carnes era de US$ 62,2 milhões, número que caiu a US$ 50,5 milhões na última semana. No mês, a exportação de carnes registra redução de 3,7%, em relação à média de fevereiro, e aumento de 7,1%, se comparado a março de 2016.
Em termos de valor, a carne que mais vem caindo em relação ao mês passado é a de frango in natura, seguida pela bovina in natura. A carne de porco in natura ainda apresenta aumento em relação a fevereiro no resultado da quarta semana de março da balança comercial.
O globo, n.30549 , 28/03/2017. Economia , p.21