Título: Carência multiplica problemas
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2011, Brasil, p. 9

Pesquisa revela que, comparadas às áreas regulares, favelas apresentam altos índices de analfabetismo e pouco acesso a serviços

O índice de adultos analfabetos nas favelas do Brasil (8,4%) é o dobro do verificado nas áreas regulares (4,2%). Em rendimento, a desvantagem se repete ainda de forma mais drástica. Enquanto 27,1% das residências fora dos conjuntos habitacionais precários recebem mensalmente mais de dois salários mínimos per capita, somente 4,6% das moradias irregulares estão no mesmo patamar. Os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que a população dessas baixadas, grotas, mocambos ou palafitas, entre muitos outros nomes dados pelo Brasil às áreas ocupadas ilegalmente, é jovem. Só 6,1% têm 60 anos ou mais, enquanto no restante das cidades tal indicador sobe para 11,1%.

"Talvez por serem resultado de movimentos migratórios, que foram e continuam indo para as regiões metropolitanas e as cidades médias, temos uma população mais jovem nos aglomerados subnormais", diz Claudio Stenner, gerente de Regionalização do IBGE. O termo se refere ao conceito técnico que o instituto usa para classificar as favelas. O primeiro critério é não ter situação fundiária regularizada. Além disso, só são considerados pelo estudo aglomerados subnormais os conjuntos habitacionais com mais de 50 residências e que tenham problemas de oferta de serviços básicos ou urbanísticos. "Uma comunidade localizada na faixa de domínio de uma linha de tensão ou de uma ferrovia, por exemplo, entra no quesito urbanístico", explica.

Entre a oferta de serviços básicos, o esgotamento sanitário é o mais grave, com mais de 30% dos domicílios em favelas sem privadas ligadas à rede geral de esgoto ou ao menos a uma fossa séptica. "Nos demais indicadores, como água encanada e luz, verificamos desvantagem nos aglomerados subnormais, mas não com grande diferença em relação ao resto da população", explica Stenner. Segundo ele, no caso da energia elétrica, se considerado medidor exclusivo e luz oferecida por distribuidora, o índice da população com acesso ao serviço cai de 99,7% para 72,5%, apontando uma precariedade.

Desemprego é a causa da pobreza O desemprego é a principal causa da pobreza no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que entrevistou 3.796 pessoas para o estudo Percepção sobre pobreza: causas e soluções. O desemprego foi apontado por 29,4% dos entrevistados. A dificuldade de acesso e a má qualidade da educação (18,4%), seguidas pela corrupção (16,8%), também foram mencionadas na pesquisa. No questionário sobre o principal problema enfrentado no país, a violência foi indicada por 23% das pessoas, seguida pela saúde (22,3%), pela corrupção (13,7%) e pelo desemprego (12,4%).