Ministro da Saúde diz que falta espaço para estocar doses

Renata Mariz 

Vera Araújo

20/03/2017

 

 

Ricardo Barros garante, no entanto, que não há escassez de vacinas
 
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse ontem ao GLOBO que o problema da imunização contra a febre amarela no Brasil está na “logística do armazenamento das vacinas” e não na escassez do produto. Segundo ele, falta em muitos locais de vacinação um espaço adequado para manter corretamente as doses enviadas pelo governo.
 

— Não há risco de faltar a vacina, o problema é que ela tem que ser acondicionada em baixas temperaturas. Cada unidade de vacinação tem uma capacidade pequena de estocar a vacina em condições adequadas. Então, às vezes, o que acontece é que a vacina termina naquele posto e tem que esperar vir uma nova carga para guardá-la da maneira correta, senão ela perde o efeito — explicou Barros.

De acordo com o ministro, o país tem condições de fabricar até dez milhões de doses de vacina por mês, o que seria suficiente para atender as áreas prioritárias, conforme protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas, como a população de lugares fora da mancha de prevenção tem buscado a vacina, o governo vislumbra algumas estratégias para que ninguém fique sem proteção.

Uma delas, segundo Barros, é ampliar em dez vezes a produção da vacina, com a ocupação de uma fábrica desativada. A Fiocruz já aguarda uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar o trabalho.

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PRODUÇÃO JÁ AUMENTA ESTE MÊS

Há outras alternativas, mas o governo reluta em adotá-las, como a importação do insumo ou, em caso extremo, a diluição de cada dose em cinco, o que reduziria a validade da vacina de dez para um ano.

Referência internacional na elaboração de vacinas contra a febre amarela, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) anunciou que pretende ampliar sua produção mensal de 3,2 milhões de doses para 8,5 milhões até o fim de março. Diretor do órgão, Artur Couto disse que, para atingir esse número, será usada uma segunda linha de produção, que até então era designada para fazer as vacinas da tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba). Até agosto, segundo ele, poderá ser alcançada a marca de 12 milhões de doses, em razão de uma parceria com o laboratório Libbs Farmacêutico, de São Paulo. Dentro da Fiocruz, há 250 pessoas envolvidas no processo de produção:

— Até agosto, já teremos certificado o Libbs para nos apoiar nesse trabalho. É uma prioridade de saúde pública, uma vez que laboratórios particulares não têm interesse na confecção da vacina, por ser de baixo custo. Uma dose contra a febre amarela custa R$ 3. A população não tem motivos para ficar preocupada.

Segundo Couto, para produzir a vacina a partir da matéria-prima, gasta-se, em média, de quatro a cinco meses. Ela é produzida em duas etapas: na primeira, é desenvolvido um concentrado viral. Na segunda, o produto passa pelo processo de liofilização (secagem e eliminação de substâncias voláteis feita em temperatura baixa e sob pressão reduzida).

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MATÉRIA-PRIMA SUFICIENTE

O Bio-Manguinhos já tem em estoque 78 milhões de concentrados virais, a matéria-prima para a vacina. Com isso, será possível uma produção mais rápida, entre 26 a 27 dias, contando envazamento, controle, rotulagem e entrega do produto.

Além do Bio-Manguinhos, mais três institutos produzem a vacina contra a febre amarela: o Sanofi Pasteur, também no Brasil, e dois fora do país, na Rússia e no Senegal. Para a sua conservação, a vacina exige, em laboratório, temperatura de 20 graus negativos. Nos postos, para aplicação imediata, pode permanecer em ambientes com 4 a 8 graus.

— O Bio-Manguinhos também forneceu vacinas contra a febre amarela para Angola, na epidemia no ano passado, a pedido da Organização Mundial de Saúde (OMS) — ressaltou Artur Couto.

O globo, n.30541 , 20/03/2017. Rio, p.8