Título: Socorro de 489 bilhões de euros
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Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2011, Economia, p. 17

Ajuda inédita do Banco Central Europeu a 523 instituições tenta diminuir o risco de quebras e evitar o colapso do sistema de crédito

Frankfurt — Na maior operação financeira já realizada no bloco, o Banco Central Europeu emprestou ontem 489 bilhões de euros a 523 bancos que recorreram à linha criada pela instituição para socorrer o sistema financeiro, fortemente abalado pela crise de endividamento que assola a Zona do Euro. A procura pelos recursos, que serão cedidos por um prazo de três anos, com juros reduzidos, surpreendeu os analistas, que esperavam um montante de 310 bilhões de euros, segundo uma pesquisa feita no início da semana pela Agência Reuters.

A nova linha de crédito de longo prazo é a mais recente e ousada tentativa do BCE para evitar que os problemas da região desemboquem na quebra de bancos e, no limite, numa catástrofe econômica. Pelo novo mecanismo, as instituições podem pleitear o volume de recursos que desejarem — basta dispor de garantias suficientes. Com a nova política, a autoridade monetária espera aumentar a confiança na solvência dos bancos e diminuir a ameaça de uma crise de crédito, que seria devastadora para a economia.

Um outro efeito seria estimular a compra de títulos da Espanha e da Itália, países que têm sido obrigados a pagar encargos elevados para rolar sua dívida, muito embora não esteja muito claro que isso vá de fato acontecer. "Os empréstimos a três anos de hoje são o equivalente a quase uma vez e meia o programa de emissão de bônus da Espanha e da Itália em 2012", disse Martin Van Vlie, economista do ING. "Contudo, não sabemos se este dinheiro será utilizado para comprar dívida, uma vez que esses títulos seriam contabilizados nos balanços por seu valor de mercado, que é baixo", completou.

Insegurança A insegurança do mercados tem afetado fortemente o sistema financeiro da Zona do Euro, que precisará refinanciar mais de 600 bilhões de dívidas bancárias com vencimento no próximo ano, dos quais 230 bilhões só no primeiro trimestre, relembrou o presidente do BCE, Mario Draghi. "Com uma ajuda tão generosa, o risco de quebra das instituições financeiras por problemas de liquidez deve ser reduzido", disse Christian Schulz, do banco Berenberg.

Os juros cobrados nos empréstimos vão se basear na média da taxa básica praticada pela autoridade monetária nos próximos três anos. Desde o mês passado, quando foram reduzidos, os juros básicos estão em apenas 1% ao ano. A esse nível, o dinheiro pode ficar 3 pontos percentuais mais barato do que os recursos obtidos atualmente pelos bancos em operações no mercado aberto.

Os bancos, porém, estão mais dependentes do que nunca do BCE, o que mantém as incertezas. Na segunda-feira, a autoridade monetária afirmou que essa dependência pode ser difícil de curar.

Italianos pegam 49 bi Mais de uma dúzia de bancos italianos — incluindo os maiores, como UniCredit e Intesa Sanpaolo — tomaram ontem pelo menos 49 bilhões de euros dos novos empréstimos de três anos oferecidos pelo Banco Central Europeu (BCE). Segundo fontes do mercado, 14 instituições receberam autorização para obter até 58 bilhões de euros em títulos garantidos pelo Estado, que podem ser usados como aval nas operações do BCE.