Título: Itália está à beira da recessão
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Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2011, Economia, p. 19

PIB da terceira maior economia da Zona do Euro recua 0,2% no terceiro trimestre. Analistas prevêem que retração deve se intensificar em 2012

Milão — Paralisada pelas medidas de austeridade e afetada por uma conjuntura mundial mais do que sombria, a economia italiana apresentou contração de 0,2% no terceiro trimestre, aproximando o país de um quadro recessivo que tende a ser duradouro. É a primeira queda trimestral desde o fim de 2009. Em relação ao mesmo período do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas) ainda cresceu 0,2%, segundo o Instituto de Estatística Italiano (Istat).

O nível de atividade econômica se revelou mais baixo do que o estimado pelos economistas, que esperavam recuo de 0,1%, segundo dados do Dow Jones Newswires. De acordo com o Istat, a retração verificada de julho a setembro foi provocada por um recuo de 0,3% do consumo e por uma diminuição de 0,8% nos investimentos.

Com base nas últimas estatísticas — queda da produção e dos pedidos industriais de outubro —, o cenário negativo deve se repetir nos últimos meses de 2011, o que colocaria a Itália tecnicamente em recessão, caracterizada por uma contração do PIB durante pelo menos dois trimestres consecutivos.

A expectativa dos economistas é que as dificuldades se intensifiquem em 2012, quando terão impacto mais forte as medidas de austeridade adotadas para reduzir a enorme dívida pública de 1,9 trilhão de euros. As projeções do próprio governo apontam para um recuo de 0,4% no próximo ano, mas a Federação das Indústrias estima um cenário ainda pior, com retração de 1,6%. Nesta semana, o Senado deverá ratificar um novo plano para restaurar a confiança dos mercados, que prevê cortes de 20 bilhões de euros nas despesas públicas até 2014, restringe o direito à aposentadoria e cria mais impostos.

A agência de classificação Fitch Ratings informou ontem que, por causa da deterioração econômica italiana, estuda rebaixar as notas de crédito de longo prazo de 41 cidades, regiões e departamentos do país, entre eles Roma, Milão e a região industrializada da Lombardia.

A Fitch colocou também sob "vigilância negativa" as entidades públicas, como os correios, uma decisão que aumenta a dificuldade desses organismos para obter crédito nos mercados. Entre os governos regionais ameaçados figuram Lacio (Roma), Lombardia (a mais rica da Itália), Piemonte, Veneto, Calabria e Sicília. A agência explicou que as notas das localidades ou entidades públicas "não podem ser superiores" à classificação do país.