Palocci era 'italiano', diz testemunha

André Guilherme Vieira, Fernando Taquari e Cristiane Agostine

14/03/2017

 

 

O ex-presidente da Odebrecht Industrial, Márcio Faria, disse ao juiz Sergio Moro que o ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda Antonio Palocci era chamado de "italiano" em troca de e-mails dele com o empresário Marcelo Odebrecht. Faria afirmou também que outros dois codinomes, LC e JSG, eram usados para se referir a Luciano Coutinho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, respectivamente.

Márcio Faria foi ouvido ontem como testemunha no processo penal a que Palocci responde na Justiça Federal em Curitiba por supostas corrupção e lavagem de dinheiro que envolveriam o processo de contratação dos navios-sonda pela Petrobras para a exploração da camada pré-sal. Ele é um dos 78 delatores da Odebrecht e reproduziu, no testemunho dado a Moro, parte das informações prestadas na delação premiada que firmou com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

As informações entregues em delação premiada por ele e 77 ex-executivos e acionistas da Odebrecht vão amparar pedidos de investigação do procurador-geral Rodrigo Janot, que devem ser encaminhados ainda esta semana ao ministro relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin.

Indagado pela procuradora da República Laura Tessler, Faria explicou durante a audiência que, enquanto executivo da Odebrecht, não mantinha relação com Palocci. Ele foi categórico ao afirmar que o empresário Marcelo Odebrecht tratava diretamente com o ex-ministro petista. A Lava-Jato suspeita que Palocci recebeu R$ 128 milhões em propinas da Odebrecht e que destinou parte desses valores para o financiamento ilegal do PT e de políticos do partido. A defesa do ex-ministro nega que ele tenha intermediado pagamento ilícito.

O juiz Moro questionou qual é o significado de e-mail enviado por Marcelo a Márcio Faria em 30 de abril de 2011 que diz: "Se nós soubermos o que queremos, construção ou afretamento, posso passar para o italiano?"

"O ex-ministro Palocci era do contato do Marcelo, que eu entendo que tinham formulado os vários projetos dos quais as empresas estariam participando. Principalmente onde [a Odebrecht] era investidora", respondeu Faria.

O magistrado também pediu a Faria que explicasse outra mensagem eletrônica que ele enviou a Marcelo Odebrecht, em 12 de maio de 2011. No e-mail ele pergunta se foi boa a conversa, e Marcelo responde 'temas principais, a pedido dela. Estavam [presentes] LC e Itália".

"Marcelo tinha essa entrevista com esse pessoal do governo e me perguntou se teria alguma coisa. Eu disse que o objeto não era isso [discussão sobre afretamento ou construção das sondas], mas ele poderia ser provocado a falar sobre esse assunto", disse o delator.

"Era uma conversa de Marcelo Odebrecht com a então presidente?", perguntou o juiz. Faria respondeu que sim. "E esses outros presentes aqui, na reunião [Luciano Coutinho e Palocci, segundo o delator]". Márcio Faria prestou depoimento em São Paulo, por videoconferência na Justiça Federal.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4213, 14/03/2017. Política, p. A10.