G-20 quer afastar os EUA de agenda protecionista

Sam Fleming, Shawn Donnan e Claire Jones

14/03/2017

 

 

Autoridades da Europa e outras grandes economias esperam atrair os EUA de Donald Trump em direção às políticas comerciais e cambiais defendidas pelo G-20 (que reúne as principais economias do mundo), antes da reunião que ocorre esta semana na Alemanha. Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, vai se encontrar com ministros das finanças do G-20 e representantes de bancos centrais na cidade de Baden-Baden a partir de sexta-feira. O encontro acontecerá em meio às incertezas com as posições antiglobalização de Trump e será um teste importante para os esforços internacionais de afastar o presidente americano da agenda Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul Para mais informações visite a nossa página: www.camara.leg.br/representacaomercosul 9 protecionista que prega a "América em 1º lugar", que ele definiu para o seu governo antes das reuniões de cúpula mais significativas do G-7 e do G-20 marcadas para maio e julho. Muitas autoridades do G-20 acreditam que Mnuchin vai adotar um tom mais brando do que o do presidente americano, como tem feito em declarações sobre a China e o dólar. Isso contrasta com as queixas de Trump contra Pequim, que ele já classificou de "grande campeã" da manipulação cambial. Mas o questionamento sobre o teor do comunicado que será divulgado após a reunião evidencia as tensões entre o governo Trump e outros membros do G-20 que lutam para preservar a linguagem que se opõe ao protecionismo. Nathan Sheets, membro convidado do Peterson Institute for International Economics, que até janeiro era o subsecretário de Assuntos Internacionais do Tesouro dos EUA, disse: "As duas questões mais importantes são a posição do governo sobre o comércio internacional e o que eles pensam das taxas de juros." Esboços iniciais do comunicado omitiram referências anteriores sobre a prevenção ao protecionismo e as desvalorizações cambiais competitivas. Perguntado sobre isso na quinta-feira, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), descreveu os compromissos com a abertura das fronteiras e as taxas de câmbio flutuantes, como "o pilar da estabilidade que acompanhou o crescimento do mundo nos últimos 20 anos". Na noite de sexta-feira, a parte sobre evitar as desvalorizações competitivas estava de volta ao texto, embora não houvesse nenhum acordo sobre o que o comunicado iria dizer sobre o comércio. Algumas altas autoridades disseram que uma movimentação dos EUA no sentido de subscrever as promessas passadas do G-20 de resistir ao protecionismo, deverá de certa forma ser fácil para o governo Trump, que vem se esforçando para acalmar os aliados. "Eles não estão dizendo que são protecionistas. As novas autoridades americanas estão dizendo 'não, não, não. Queremos o livre comércio, mas não queremos ficar em desvantagem'", disse uma autoridade graduada internacional. Um relatório sobre a economia mundial preparado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a reunião do G-20 deverá repetir os alertas recentes de que qualquer movimentação em direção ao protecionismo vai afetar a economia mundial, que se encontra em meio a uma recuperação frágil. Mnuchin pediu ao FMI uma análise imparcial das políticas cambiais de outros países, em meio a preocupações de que tais práticas prejudicam os EUA. Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul Para mais informações visite a nossa página: www.camara.leg.br/representacaomercosul 10 Sinais conflitantes do governo Trump deixaram parceiros estrangeiros tentando prever as opções de política econômica dos EUA. Um funcionário a par das discussões no G-20 disse: "Não há crise imediata e isso dá a eles [os EUA] algum espaço para respirar. Mas o resto do mundo gostaria de saber qual é a posição deles". Mnuchin entrará nas conversações acompanhado apenas de uma equipe básica e políticas em fase preliminar de elaboração. Trump ainda não nomeou um chefe de assuntos internacionais no Tesouro, o que dificulta o engajamento entre os países. Matthew Goodman, um ex-funcionário da Casa Branca agora no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que Mnuchin parecia estar seguindo o padrão de James Mattis, secretário de Defesa, e de Rex Tillerson, secretário de Estado, sugerindo que ele poderá tentar oferecer uma "face tranqüilizadora" aos parceiros EUA. "Isso vai oferecer algum conforto aos parceiros no G-20, mas talvez não por completo. Deixará algumas dúvidas sobre qual será a posição real do governo, as questões específicas com as quais eles estão lidando", acrescentou. A Alemanha também está incerta em relação ao que governo americano vai trazer e está preparada para conversas sobre seu superávit comercial com os EUA, algo que Peter Navarro, consultor comercial de Trump, denunciou. Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças alemão, deixou claro, recentemente, que as relações estão caminhando para território desconhecido. "O eleitorado [americano] votou, e vamos trabalhar o melhor possível com as pessoas que eles elegeram", disse ele. "A cooperação internacional continuará"

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4213, 14/03/2017. Política, p. A10.