Brasil defenderá abertura comercial e combate ao protecionismo no G-20

Assis Moreira

15/03/2017

 

 

O Brasil defenderá forte compromisso do G-20 contra o protecionismo e sinalizará que pressiona por abertura de mercados, na reunião de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do grupo, na sexta-feira e no sábado em Baden Baden, na Alemanha.

A expectativa é que os participantes tentem arrancar do novo secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, esclarecimentos sobre as intenções reais de Washington na política comercial, em meio a ameaças que saem da Casa Branca de rejeitar as regras internacionais e impor sanções unilaterais contra parceiros.

No momento, as discussões sobre comércio puxam para todas as direções em Washington, segundo fontes. De seu lado, conforme a agência "Bloomberg", Mnuchin planeja transmitir no G-20 a mensagem de que os EUA não vão tolerar que países se engajem em desvalorização competitiva de moeda para ganhar vantagem comercial, que é justamente um dos compromissos do grupo. Mnuchin se encontrará com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, por pouco mais de dez minutos, para o primeiro contato oficial, segundo fonte em Washington.

A primeira versão do comunicado do G-20 sobre comércio cortou a frase pela qual os países se comprometiam a "resistir a todas as formas de protecionismo", que foi adotada nos encontros anteriores do grupo. A nova frase é de promessa de as nações manterem um sistema comercial internacional "aberto e justo". Foi depois ligeiramente remanejada pelos europeus. No entanto, com a controvérsia, o mediador alemão da reunião do G-20 sugeriu que a versão final sobre comércio deve ficar mesmo com os ministros.

Valor apurou que a mudança de linguagem já vinha sendo discutida por alguns países desde o ano passado, inquietos com a credibilidade do grupo. Todos se comprometem em combater protecionismo, mas na prática as restrições comerciais continuam.

Em seu último relatório para o G-20, a OMC constatou que um número enorme de medidas adotadas no rastro da crise de 2008-09 continua em vigor. Recentemente, pelo menos 15 restrições comerciais por mês foram adotadas.

O Brasil, de seu lado, defende uma linguagem mais forte contra o protecionismo do que a que está na mesa de debate, segundo fontes. Por sua vez, a China, maior nação comerciante do planeta, pareceu bem discreta.

A posição brasileira visa deixar claro que o país está aberto a negociações, busca se integrar mais na economia mundial e espera que seu crescimento tenha mais participação do comércio exterior. A mudança é significativa se comparada a anos recentes, quando reuniões do G-20 eram antecedidas de relatórios da Câmara de Comércio Internacional ou da OMC mostrando que o Brasil era uma das economias mais fechadas globalmente.

O mercado brasileiro continua fechado, mas a disposição mudou, embora num contexto internacional em que a margem para negociar abertura de mercado diminuiu, e as forças anticomércio crescem nos países desenvolvidos.

Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional (FMI), sem mencionar Trump e movimentos populistas, constata que a ameaça de medidas protecionistas aumentou e faz uma forte defesa do sistema multilateral de comércio.

Em "nota de monitoramento" para o G-20, o FMI destaca que cresceram as preocupações sobre efeitos adversos da integração econômica global e da mudança tecnológica sobre emprego e renda nas economias desenvolvidas. O texto observa que pressões políticas para reverter tais tendências podem levar a rupturas no comércio global, prejudicando o crescimento sem ajudar países afetados por transformações econômicas estruturais.

O Fundo alerta que a deterioração dos compromissos em alguns países em relação ao sistema multilateral de comércio ameaça uma fonte crítica de crescimento da produtividade global e resiliência.

A entidade alerta também que o forte aperto nas condições financeiras no cenário internacional pode deflagrar maior saída de capital de economias emergentes. Destaca ainda que preocupações sobre a estabilidade financeira e fiscal em algumas economias avançadas podem se tornar mais agudas e problemas geopolíticos se intensificarem. Economias emergentes e em desenvolvimento com taxa de câmbio atrelada ao dólar podem enfrentar desafios, afirma o FMI.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4214, 15/03/2017. Brasil, p. A2.