Presidenciáveis abalados

Sérgio Roxo

19/03/2017

 

 

Delações e lista de Janot tiram capital político dos principais atores para 2018
 

Em seus três anos, completados na última sexta-feira, a Lava-Jato passou como um rolo compressor sobre os nomes de destaque da cena política nacional. As citações em delações premiadas reduziram substancialmente o capital político de presidenciáveis e transformaram a corrida pelo Planalto em 2018 em um jogo totalmente aberto, sujeito à aparição de um novo nome.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra e até Marina Silva (Rede) caíram nas pesquisas de intenção de voto, mudando o xadrez político brasileiro. Como resultado das denúncias e investigações, um em cada quatro eleitores declara não ter candidato a presidente. Em pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, em três dos quatro cenários testados, 20% dos entrevistados disseram que pretendem votar em branco ou nulo em 2018. Outros 6% não souberam opinar.

— Há um descontentamento muito grande com os nomes que estão postos — analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.

O histórico das pesquisas mostra que a perda de capital político começa logo após se intensificarem notícias sobre citações na operação.

Mesmo Lula, que lidera a corrida presidencial as pesquisas, viu o seu desempenho cair. Em fevereiro de 2014, um mês antes de a Lava-Jato chegar às ruas, o petista tinha entre 51% e 54% no Datafolha. Sua rejeição era de apenas 17%. No último levantamento do instituto, em dezembro do ano passado, o petista, réu em cinco ações ligadas à operação, tinha metade das intenções de voto: apenas 25%. A rejeição era de 44%.

— O fracasso do governo Dilma e a Lava-Jato se juntam para explicar a queda no desempenho do Lula — diz Melo.

A situação do ex-presidente já foi pior. Pesquisa divulgada em março, dias depois de o juiz Sérgio Moro determinar a sua condução coercitiva para depor sobre o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia, mostrava o petista com apenas 17% das intenções de voto e 57% de rejeição.

Para o professor do Insper, Lula conseguiu reagir pelo discurso que adotou e pelas denúncias contra integrantes do governo de Michel Temer:

— São duas coisas: tem o discurso da vitimização e também uma evidência de que ao tirar o PT para colocar o PMDB, do ponto de vista moral, não houve nenhuma grande mudança.

Segundo o cientista político, a liderança de Lula não facilita o seu caminho para voltar ao Planalto por causa da rejeição.

— O desafio não é ter 25%, é romper os 50%. No cenário atual, quem for para o segundo turno com Lula acaba tendo uma grande vantagem.

Aécio, que até 2015 liderava a corrida pelo Planalto, não está em situação mais confortável. O tucano tinha em dezembro daquele ano 27% no Datafolha. Em fevereiro de 2016, caiu para 24%. A partir de março, quando aumentaram as citações ao seu nome na Lava-Jato, a queda se acentuou. Na pesquisa de dezembro do ano passado, o tucano somava apenas 11%. Apesar de aparecer na nova lista do procurador-geral da República Rodrigo Janot, Aécio não é réu em ação na Lava-Jato.

— O Aécio nem começou a apanhar direito por causa da Lava-Jato e já caiu do jeito que caiu — observa Melo.

Seus colegas de partido que também sonham em disputar a presidência em 2018, Serra e Alckmin, tinham 9%e 8%, respectivamente, no último Datafolha. O senador já chegou a ter 15% e o governador paulista, 14%.

Até Marina Silva perdeu capital político, desegundo pois que foi noticiado, em junho do ano passado, que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro disse em negociação para fechar a sua delação premiada que fez contribuições via caixa 2 para a campanha da ex-senadora a presidente em 2010. A líder da Rede, que tinha em abril do ano passado no Datafolha entre 16% e 23% (a depender do cenário), caiu para um patamar entre 14% e 18%.

Na avaliação de Carlos Melo, o enfraquecimento dos nomes tradicionais pode tornar a disputa de 2018 muito pulverizada e levar candidatos com menos de 20% dos votos para o segundo turno.

— Abre espaço para o surgimento de um novo nome. O problema é se esses nomes que podem surgir são aglutinadores ou geradores de maior fragmentação.

É nesse vácuo que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), podem aparecer.

De acordo com o professor do Insper, além de reduzir o capital político dos presidenciáveis, a Lava-Jato também mexerá com a estrutura das futuras campanhas.

— O símbolo maior da Lava-Jato é o casal João Santana e Monica Moura. Essa prisão fere o que vinha sendo o coração das campanhas, que era o marketing político.

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP)

Réu em cinco ações ligadas à Operação Lava-Jato, o ex-presidente mantém a liderança nas pesquisas de intenção de voto, mas tem rejeição elevada. Na última sondagem do Datafolha, de dezembro de 2016, 44% dos entrevistados disseram que não votariam no petista.

 

Aécio Neves (PSDB-MG)

O senador tucano despencou nas pesquisas quando aumentaram as citações a seu nome nas delações da Lava-Jato. De 27% das intenções de voto que chegou a ostentar em 2015, caiu para 11% no Datafolha de dezembro do ano passado. Aécio é um dos nomes da lista de Janot.

 

Marina Silva (Rede-AC)

A líder da Rede, que chegou a ter entre 16% e 23% das intenções de voto, de acordo com os cenários, caiu para 14% e 18%. Marina foi atingida por delação do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, que disse ter feito doações via caixa 2 para a campanha da senadora a presidente em 2010.

 

José Serra (PSDB-SP)

O ex-ministro das Relações Exteriores disputa com Aécio e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o direito de ser o candidato tucano à Presidência. Integra a lista de Janot, após delator ter dito que fez contribuições de R$ 23 milhões, em parte na Suíça, para sua campanha em 2010.

O globo, n.30540 , 19/03/2017. País, p. 3