CITADO POR PROPINA NA LINHA 4, DEPUTADO ESTÁ NA LISTA DA PGR

Chico Otávio

19/03/2017

 

 

Julio Lopes foi secretário de Transportes durante execução da obra
 

Delações de ex-dirigentes da Odebrecht levaram o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar o deputado estadual Julio Lopes (PP-RJ), disse ao GLOBO uma fonte com acesso aos depoimentos.

Ex-secretário estadual de Transportes de 2007 a 2014, durante o governo de Sérgio Cabral, Lopes entrou na lista de Janot depois de ter sido acusado de receber propina em contratos e aditivos da construção da Linha 4 do Metrô (Ipanema-Barra da Tijuca) e do Arco Metropolitano do Rio, ambos executados durante o governo Cabral.

A decisão sobre o inquérito, assim como os demais baseados nas delações da Obebrecht, será tomada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF. Os investigadores acreditam, porém, que a recente prisão de Luiz Carlos Velloso, ex-chefe de gabinete de Lopes na Secretaria de Transportes, possa acrescentar mais provas sobre o envolvimento do deputado em esquemas de desvios de recursos nas obras e operação da Linha 4.

Carlos Velloso e Heitor Lopes de Souza Júnior, diretor da Companhia de Transportes sobre Trilhos do Rio de Janeiro (Riotrilhos), foram presos na semana passada, durante a Operação Tolypeutes, parceria do Ministério Público Federal com a Polícia Federal. Carlos Velloso, que conhece Lopes há pelo menos 30 anos, é apontado na política fluminense como braço direito do deputado. Seu nome surgiu nas investigações após o acordo de leniência da empresa Carioca Engenharia, integrante do consórcio Rio-Barra, que fez as obras do metrô, em conjunto com a Queiroz Galvão e com a Odebrecht.

Heitor Aquino e Velloso vão responder pela acusação de cobrança de propinas de 0,125% a 0,25% sobre valor do contrato da obra metroviária. Os pagamentos eram feitos em espécie ou por intermédio do repasse de valores de empreiteiras subcontratadas para empresas de consultoria ligadas aos gestores públicos. A principal forma de esconder a propina era a criação de aditivos que aumentavam os custos do projeto e alteravam o escopo técnico das obras.

___________________________________________________________________________________________________________________

OBRA ERA DA CASA CIVIL

Procurado pelo GLOBO, o deputado Julio Lopes disse que a gestão da Linha 4 do Metrô foi feita pela Casa Civil do Governo Cabral e não pela Secretaria de Transportes. De acordo com ele, a obra só ficou sob administração da pasta de Transportes a partir de 23 de janeiro de 2015.

Lopes acrescentou, a título de exemplo, a contratação da Fundação Getulio Vargas pela Casa Civil para o reequilíbrio econômico financeiro do contrato de concessão da Linha 4, o que gerou os valores atualizados da obra e nova Equação Econômico Financeira, objeto de aditivo no contrato.

“Ao longo de toda a gestão da Linha 4, a Casa Civil atuava por intermédio de seus subsecretários de projetos especiais, como comprovam as atas das 35 reuniões onde eram determinados os custos e atos de gestão, sem que Luiz Carlos Velloso e Julio Lopes tenham participado de uma só delas”, informou, em nota, o parlamentar.

Sobre pedido de abertura de inquérito, o deputado se disse tranquilo.

“Não fui oficialmente notificado sobre pedido de abertura de inquérito. Recebo a informação com tranquilidade. A investigação tem por objetivo o esclarecimento dos fatos e tenho plena confiança de que serão plenamente esclarecidos. Acredito no trabalho da Justiça e do Ministério Público. Tenho convicção que como em outros casos investigados pela Operação Lava-Jato, este também será arquivado”, diz a nota.

O globo, n.30540 , 19/03/2017. País, p. 4