Publicitário esperava usar benefício da repatriação

19/03/2017

 

 

Banco pressionava por comprovação de origem dos recursos da conta

 

Em 2015, quando as investigações da Lava-Jato já alcançavam pagamentos a campanhas políticas, o publicitário João Santana aguardava a aprovação da lei de repatriação para legalizar o dinheiro mantido na Suíça. Ao mesmo tempo em que as apurações avançavam no Brasil, aumentou a cobrança da direção do Heritage para que fossem apresentados documentos comprovando a origem dos recursos movimentados pelo publicitário na conta Shellbill entre 2012 e 2014.

Ao gerente, Santana acenava com a retirada do dinheiro do banco, aproveitando-se da lei de repatriação, que anistiou quem tinha dinheiro não declarado fora do país e foi sancionada pela então presidente Dilma Rousseff, em janeiro de 2016. Em mensagem interna, o gerente relata a superiores que esteve com Santana em outubro de 2015, em São Paulo, e que o publicitário “estava convencido da aprovação” da lei de anistia fiscal, que seria submetida ao Congresso.

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DINHEIRO VIRA “PANFLETO”

A constante troca de mensagens com o gerente mostra que João Santana cuidava pessoalmente das entradas e saídas da conta na Suíça, ao contrário do que havia dito. Ao ser preso, em fevereiro de 2016, o publicitário dissera que não se envolvia na parte financeira da empresa e quem cuidava do dinheiro era a mulher dele, Monica Moura.

Procurado, o advogado de João Santana não retornou o contato feito pelo GLOBO.

Para falar com o gerente, o marqueteiro usava o endereço de e-mail jcerqueira1953@yahoo.com.ar. Em vez de mencionar valores, por várias vezes as quantias movimentadas eram tratadas como “panfletos”, “prospectos”, “questionários” ou “formulários”.

“Caro Antonio, por favor, peço sua atenção para três temas: a) enviamos, na semana passada, 198 questionários. Recebido? b) seguem, amanhã, mais 110 ( .... )”, diz Santana numa das mensagens.

O publicitário chegou também a usar um doleiro e obter dinheiro em espécie para o Brasil.

“Caro, necessito, se possível até amanhã, envio de formulários 80m através conterrâneo paulista (...)”, solicita o publicitário. No dia seguinte, o extrato registra a transferência de US$ 80 mil para um doleiro já flagrado em investigações nos Estados Unidos.

Santana e Monica Moura foram condenados a oito anos de prisão na Lava-Jato, por receberem US$ 4,5 milhões na Suíça do operador Zwi Skornicki. A ação que envolve as quantias pagas pela Odebrecht ainda não foi julgada.

O globo, n.30540 , 19/03/2017. País, p. 6