O embaixador da União Europeia, João Cravinhos, informou que o bloco pode suspender importações de carne brasileira se as explicações do governo sobre a vigilância sanitária não forem suficientes. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, crê que o sistema agrícola é robusto, mas teme, após a Operação Carne Fraca, perda de mercados e da confiança do consumidor brasileiro: “Prejuízo nós teremos.” O presidente Michel Temer convocou para hoje uma reunião de emergência. Ontem, a Vigilância Sanitária recolheu amostras de carne em supermercados do Rio. O risco de o Brasil ser punido com o fechamento de mercados importantes para carnes bovina e de frango, como o europeu, é cada vez maior, por causa da Operação Carne Fraca da Polícia Federal. Segundo o embaixador da União Europeia (UE) em Brasília, João Gomes Cravinhos, se as explicações a serem fornecidas hoje pelo Ministério da Agricultura sobre o funcionamento do sistema sanitário brasileiro não forem suficientes, o bloco poderá suspender as importações desses produtos.

— O Brasil é o maior exportador de carne de frango e um dos maiores fornecedores de carne bovina para a União Europeia, mas estamos com um problema que põe em dúvida a credibilidade do sistema sanitário brasileiro. Nossa preocupação é com o consumidor europeu e a suspensão é uma possibilidade — disse o embaixador ao GLOBO.

Segundo as investigações da Polícia Federal reveladas na sexta-feira, empresas do agronegócio pagavam propina a fiscais agropecuários para liberar produtos sem a fiscalização adequada. As suspeitas envolvem 40 frigoríficos. Gigantes do setor, como a BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão) e JBS (Friboi e Seara) tiveram funcionários detidos.

Na própria sexta-feira, a UE pediu informações ao governo brasileiro. Cravinhos disse que, além de dados técnicos sobre o funcionamento do sistema e da própria fiscalização, a UE quer saber quanto, neste momento, navios que estão a caminho da Europa levam de carne bovina e de frango do Brasil.

— Precisamos saber se é um problema pontual ou se realmente estamos diante de um problema maior. Também precisamos saber se a carne a caminho da Europa pode ser consumida — afirmou o embaixador.

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BLOCO RESPONDE POR 20% DAS EXPORTAÇÕES

Em 2016, as vendas de carne bovina do Brasil para a UE chegaram a US$ 1,315 bilhões, o que corresponde a 20% do total de exportações do produto, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). No caso do frango, 9,3% das vendas brasileiras vão para o bloco europeu.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, marcou para hoje reuniões com embaixadores de países compradores de carne brasileira para prestar esclarecimentos. O ministério elabora um material para enviar aos representantes de países estrangeiros detalhando como é feita a fiscalização no Brasil.

Cravinhos foi convidado para uma reunião, no Palácio do Planalto, com o presidente Michel Temer. Ele elogiou o convite de Temer que, em sua opinião, mostra que o governo brasileiro quer um tratamento de alto nível para essa questão.

— Se os esclarecimentos não forem satisfatórios, vamos aplicar todos os mecanismos possíveis para defender o consumidor, inclusive a suspensão das importações. Até a última quinta-feira, não podíamos imaginar que isso fosse acontecer.

Na próxima segunda-feira, haverá uma reunião, em Buenos Aires, entre representantes do Mercosul e da UE. As conversas serão sobre o acordo de livre comércio que está em negociação. Cravinhos garantiu que a operação da PF não vai influenciar.

— São duas coisas diferentes. Vamos discutir cotas e tarifas, e não questões sanitárias.

Além de União Europeia, também os Estados Unidos e a China pediram esclarecimentos ao Brasil. Ontem, o presidente Temer conversou com o presidente americano, Donald Trump. A conversa já estava marcada antes de vir à tona o escândalo das carnes. Segundo um auxiliar de Temer que acompanhou a ligação, o problema não foi tratado.

Em nota, o Ministério da Agricultura informou ontem que o serviço de inspeção federal brasileiro “é considerado um dos mais eficientes e rigorosos do mundo” e inspeciona 4.837 unidades produtoras habilitadas para exportar para 160 países. Após as denúncias, 33 fiscais federais estão sob investigação, três plantas foram interditadas e outras 21 estão sob fiscalização especial.

O presidente Temer convocou para hoje reuniões com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o ministro do Planejamento, Marcos Pereira, e representantes de frigoríficos para debater os desdobramentos da Operação Carne Fraca.