Temer faz ofensiva para aprovar reformas

Marcelo Ribeiro

25/03/2017

 

 

O presidente Michel Temer intensificará nesta semana a ofensiva sobre parlamentares aliados para garantir a aprovação da proposta de reforma da Previdência até julho. Em outra frente, Temer participará também de evento com investidores no qual tentará tranquilizar o mercado financeiro sobre as perspectivas em relação à aprovação da agenda reformista do governo.

Auxiliares do Palácio do Planalto admitiram "um sinal amarelo" após a vitória apertada do texto-base do projeto de terceirização na Câmara. Na semana passada, a matéria que permite o trabalho terceirizado de forma irrestrita para qualquer tipo de atividade foi aprovada por 231 parlamentares, ante 188 votos contrários e 8 abstenções.

Considerada pauta prioritária pelo governo, a proposta de terceirização foi rejeitada por 56 parlamentares que pertencem à base governista. Entre as legendas aliadas, o PSDB, com 11 votos contrários, e PMDB e PR, com 10, foram as maiores dissidências.

Segundo assessores palacianos, o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha monitorou pessoalmente essa votação. Cauteloso sobre o resultado, o ministro compartilhou com Temer a necessidade de se trabalhar com os dissidentes individualmente para reforçar a importância de aprovar a reforma da Previdência e, na avaliação do governo, restabelecer a economia. O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, também estará na linha de frente das reuniões.

"A reforma da Previdência é o coroamento do ajuste fiscal. Esse é o recado que será passado aos parlamentares que votaram contra a terceirização. Eles precisam entender que vale mais se colar ao ônus da reforma da Previdência do que ao ônus de não aprovar a matéria e deixar a economia do país ruir", avaliou uma fonte próxima ao presidente, sob condição de anonimato. "Os contatos telefônicos e convites para conversas começam a partir desta segunda-feira", completou.

Antes mesmo do resultado da votação da terceirização, Padilha pedira, em reunião com ministros na semana passada, que todos mapeassem os votos dos correligionários, acenando para a orientação de os titulares de ministério com mandato ajudarem a convencer dissidentes.

Assessores do Palácio do Planalto afirmaram que desrespeitar o prazo inicial previsto para a aprovação da reforma da Previdência está fora de questão. A estratégia para persuadir os parlamentares é argumentar que, quanto antes for votada a matéria, antes aparecerão os efeitos a favor da economia, o que poderá ser usado para mostrar em 2018 que a reforma valeu a pena.

Orientações sobre essa nova ofensiva serão passadas aos líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, André Moura (PSC-SE) em reunião hoje. Também participarão do encontro o presidente e o relator da comissão especial da reforma da Previdência na Câmara, os deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Arthur Maia (PPS-BA).

Em outra frente, Temer estará em dois eventos de grande porte. Amanhã, vai a jantar organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, para debater logística e infraestrutura. Já na quarta-feira, Temer estará no 10º Brazil Conference do Bank of America Merrill Lynch, em São Paulo.

"O principal em ambos os eventos será a reforma da Previdência. A ideia é tranquilizar o mercado de que o governo está empenhado pelas reformas", explicou um auxiliar palaciano.

Segundo apurou o Valor, Temer reforçará discurso feito a empresários, de que não houve mobilização para a terceirização como há pela Previdência. Além disso, ele pretende listar os recentes êxitos do governo, como o resultado do leilão de aeroportos e a retomada do emprego. Temer destacará "a virada positiva que a economia está apresentando", com o objetivo de consolidar a credibilidade entre o empresariado e o mercado financeiro.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4222, 25/03/2017. Política, p. A8.