Título: Ceará fica refém da greve na segurança
Autor: Gama, Júnia ; Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2012, Brasil, p. 7

PMs e bombeiros negociam o fim da paralisação iniciada no último dia 29, mas policiais civis decidem parar. O clima de medo no estado deixa moradores e turistas aflitos

As negociações para o fim da greve da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros no Ceará, que tem deixado a população aflita e o governo federal preocupado, foram intensificadas na noite de ontem. Cinco dias após o início da paralisação, a procuradora-geral de Justiça Socorro França intermediou o atendimento de três das seis reivindicações dos grevistas para que os cerca de 10 mil servidores retomassem as atividades. Até o fechamento desta edição, o acordo dependia do aval do governador do estado, Cid Gomes.

A proposta aceita por PMs e bombeiros inclui a incorporação de R$ 859 ao salário de policiais que atuam no turno da madrugada, a redução da jornada de trabalho de 46 horas para 40 horas semanais e a anistia a todos os que participaram do movimento grevista nos últimos cinco dias.

Mas outro problema ameaça a segurança pública: na noite de ontem, os policiais civis decidiram cruzar os braços em busca de melhorias salariais.

O governo federal acompanha de perto a situação. Segundo o ministro da Justiça em exercício, Luiz Paulo Barreto, que afirmou estar em contato direto com Cid Gomes, o Ceará pediu, na tarde de ontem, um novo reforço da União para atuar na segurança, principalmente pelo fato de as cidades litorâneas estarem cheias de turistas. "Temos 280 militares da Força Nacional, além do efetivo do Exército (1.059 homens), e o governador pediu mais ajuda das Forças", disse Barreto.

Com a segurança pública comprometida, lojas do centro, shoppings centers, postos de gasolina e farmácias fecharam as portas nesta terça-feira, temendo saques. Além do comércio de Fortaleza, repartições públicas e serviços básicos, como postos de saúde, correios, secretarias municipais e o Tribunal de Justiça encerraram mais cedo o expediente.

Ainda na tarde de ontem, policiais e bombeiros rejeitaram uma proposta do governo do estado sobre o reajuste da categoria. De acordo com o cabo Flávio Sabino, presidente da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará, o governo havia oferecido 23% de reajuste, mas a categoria exigia de 80% a 100% entre 2012 e 2014. O salário inicial de ambas as categorias é R$ 1.601.

Medo O administrador Thiago Rocha Ramalho, morador de Brasília, de férias em Fortaleza, contou o clima de medo na capital cearense. "Está tudo fechado e as pessoas estão preocupadas. Não sabemos o que é boato e o que não é", disse, referindo-se a uma suposta onda de arrastões divulgada nas mídias sociais. Mas, de acordo com o Ministério da Defesa, a gravidade da situação não correspondeu ao propagado. "A situação está muito menos caótica do que os sites estão mostrando", disse um servidor do órgão.

Na última segunda-feira, a Justiça determinou o fim da paralisação, iniciada na quinta-feira, e o pagamento de multa diária de R$ 15 mil a cada uma das associações da classe e R$ 500 por militar envolvido no movimento. No sábado, o governo do estado havia decretado estado de emergência.

Colaborou Denise Rothenburg