Fachin analisa delações em abril

Maíra Magro e Luísa Martins

28/03/2017

 

 

Antes de avaliar o pedido de retirada do sigilo das 77 delações da Odebrecht, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), receberá um grupo de advogados de delatores que tentam barrar a divulgação dos vídeos com os depoimentos. A audiência, marcada para sexta-feira, foi solicitada pela defesa de alguns dos delatores mais proeminentes.

Ontem, o STF informou que Fachin vai passar o mês de abril na análise dos 320 pedidos da chamada "lista de Janot" e que as decisões sobre o sigilo, os arquivamentos, as aberturas de inquérito e os declínios de competência vão ser anunciadas de uma só vez. Fontes ligadas ao relator têm afirmado que ele será "criterioso" e "não terá pressa" para examinar o material.

Advogados de cada um dos executivos e ex-executivos do grupo já apresentaram a Fachin, separadamente, diversos pedidos para que os vídeos das delações premiadas não sejam divulgados à imprensa - nem a imagem e nem sequer os áudios. Agora, eles falarão diretamente com Fachin sobre o assunto.

Como as 77 delações premiadas envolveram longas horas de depoimentos, o Ministério Público não chegou a transcrevê-las na íntegra. O conteúdo integral das delações está disponível apenas em vídeo. Nos pedidos de abertura de inquérito enviados ao STF em decorrência das colaborações da Odebrecht, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, resumiu os trechos mais relevantes para embasar cada peça. As falas dos delatores não chegaram a ser transcritas na íntegra nem mesmo nos pedidos de inquérito.

Ao encaminhar esses pedidos a Fachin, Janot também solicitou a retirada do sigilo da maior parte das delações - tudo menos os trechos relativos a crimes cometidos no exterior ou que possam resultar em novas medidas cautelares, como buscas e pedidos de prisão.

Diante do pedido do procurador-geral, advogados passaram a se movimentar para tentar barrar a divulgação dos vídeos. Eles apontam que a Lei 12.850, que regulamenta o uso da delação premiada, protege a identidade do colaborador. Segundo o artigo 5º da lei, é direito do colaborador "ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservadas", além de "não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização ou por escrito".

Valor apurou que, durante esta semana, Fachin já recebeu outros advogados de delatores para tratar do mesmo assunto.

Ontem, o STF informou que Fachin deve analisar os 320 pedidos de Janot em abril e que suas decisões, a serem anunciadas de uma só vez, serão conhecidas durante o mês.

A "lista de Janot" contém 83 solicitações de abertura de inquérito, 211 declínios de competência (governadores, por exemplo, são julgados pelo Superior Tribunal de Justiça), 7 arquivamentos e 19 outras providências, como juntar partes das delações das empresas Odebrecht e Braskem a processos já em curso. O ministro não tem prazo para tomar sua decisão.

Os processos chegaram ao Supremo em 14 de março e seguiram para uma sala-cofre, de acesso restrito, levando mais de uma semana apenas para serem registrados - ao gabinete de Fachin, o material só chegou na terça-feira passada.

De acordo com fontes, a lista compromete pelo menos 10 governadores - entre eles o de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) -, nove ministros e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), além de dezenas de políticos com foro privilegiado, comprometendo tanto oposição quanto o governo.

Os acordos de colaboração premiada foram assinados em dezembro e homologados em 30 de janeiro pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. Para a procuradoria, os processos não devem mais tramitar em segredo de justiça, por motivos de "transparência" e "interesse público".

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4223, 28/03/2017. Política, p. A10.