Entidades intensificam críticas à discussão sobre elevação de tributos

Fabio Graner

29/03/2017

 

 

Às vésperas do anúncio do corte de gastos, as reações à discussão de alta de tributos pelo governo se ampliaram. Ontem, em café da manhã com jornalistas, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, criticou duramente a ideia da área econômica do governo, que classificou de "coisa absurda". Também ontem, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia, atacou a proposta e disse que vai combater, por todos os meios, todas as iniciativas nessa direção.

"Por que nós vamos ter que pagar mais impostos?", questionou Martins. Segundo ele, o governo "errou na mão" ao demorar para baixar a Selic, atrasando a retomada da atividade econômica. "Eles erraram na mão e mandaram a conta para a gente pagar. É um absurdo", afirmou o representante do setor de construção.

Para Claudio Lamachia, da OAB, o governo tenta usar o aumento da carga tributária "como solução mágica para os problemas do país", jogando na conta do cidadão erros de gestão e ineficiências. "É falaciosa a alegação de que a criação e o aumento de impostos são medidas necessárias para atingir a meta fiscal", afirmou.

Ele destacou que já está ocorrendo aumento de carga tributária por conta do não reajuste da tabela do Imposto de Renda. "Parece que o ministro e a área econômica do governo estão testando a paciência da população", afirmou. "A OAB está pronta a combater quaisquer iniciativas que tenham como objetivo impor mais prejuízos aos cidadãos", disse.

Nos últimos dias, se intensificou a pressão do setor empresarial contra a possibilidade de aumentar tributos. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) fez anúncios em grandes veículos de comunicação e na segunda, seu presidente, Paulo Skaf, foi diretamente ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se posicionar contra a elevação de tributos e levar estudos com "opções" para contornar o corte maior no Orçamento sem elevação de impostos. Skaf, no entanto não detalhou quais seriam essas opções.

O aumento da pressão começava a surtir efeitos, com o presidente Michel Temer resistindo à alta de impostos e a área econômica limitando o ajuste à reoneração da folha de pagamentos das empresas.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4224, 29/03/2017. Brasil, p. A5.