Título: Graziano na FAO: África é prioridade
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Fonte: Correio Braziliense, 04/01/2012, Mundo, p. 15

Em sua primeira entrevista após assumir a direção-geral da da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o ex-ministro do governo Lula José Graziano da Silva prometeu ontem que dará prioridade à África na luta pela "eliminação da fome", que atinge quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. "Eu participarei da reunião da União Africana no fim de janeiro e também viajarei ao Chifre da África", anunciou Graziano, que tomou posse no primeiro dia do ano, assinalando que vai aumentar os recursos destinados ao continente.

Sucessor do senegalês Jacques Diouf, que liderou a organização por 17 anos, Graziano foi eleito em 26 de junho do ano passado para o cargo, que pela primeira vez está nas mãos de um latino-americano. "Não temos tempo a perder se quisermos reduzir pela metade o número de pessoas que sofrem com a fome", disse o novo diretor.

Segundo a ONU, mais de 13 milhões de pessoas vivem em quatro países do Chifre da África — Etiópia, Quênia, Somália, Djibouti — atingidos pela pior seca em décadas, e dependem de ajuda humanitária. Diante da gravidade da situação, a FAO pediu à comunidade internacional que não financie apenas uma ajuda emergencial, mas que faça investimentos na agricultura a longo prazo para evitar a repetição de crises alimentares.

Graziano fez uma advertência sobre a volatilidade dos preços dos alimentos, que, segundo ele, deve continuar. "Nós acreditamos que os preços não vão subir, mas também não devem descer rapidamente. Haverá reduções, mas não será uma queda drástica, a volatilidade vai continuar", opinou. Durante a publicação de seu índice sobre os preços dos alimentos, em novembro do ano passado, a FAO previu uma manutenção dos preços a um nível elevado em 2012. E salientou que o custo dos alimentos subiu em mais de um terço durante o ano passado nos países mais pobres.

Ministro da Segurança Alimentar e do Combate à Fome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Graziano destacou que o programa brasileiro de combate à fome, o Fome Zero, "deve ser adaptado aos sistemas locais para funcionar". Para ele, é importante que cada país encontre seu próprio caminho. "Não há mágica para combater a fome", alertou, destacando que não se trata de uma função unicamente dos governos, mas de toda a sociedade.

Na entrevista, Graziano não deixou de apontar falhas da própria agência da ONU, muitas vezes criticada por seu caráter burocrático. "Um dos principais desafios da FAO é aumentar sua eficiência", reconheceu. Ele também manifestou preocupação com a situação na Síria. "Toda vez que há um conflito interno em um país, torna o nosso trabalho mais difícil e nós enfrentamos problemas de segurança alimentar", observou.