Relator ainda não viu os pedidos de inquérito da PGR

Carolina Brígido

Geralda Doca

Eduardo Barreto

16/03/2017

 

 

Moreira Franco já contratou advogado e disse que só se manifestará nos autos

Um dia depois da chegada dos 83 novos pedidos de abertura de inquérito da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o relator dos processos, ministro Edson Fachin, não quis comentar todo o trabalho que terá pela frente. Ele disse que ainda não teve contato com o material, que está em uma sala trancada, no terceiro andar do tribunal, ao lado do gabinete da presidente, ministra Cármen Lúcia.

Nos próximos dias, Fachin analisará o material para decidir se abre os inquéritos e se retira o sigilo de parte do material, como recomendou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A expectativa é que as decisões do relator não sejam tomadas nesta semana, diante da extensão do material. Dois juízes auxiliares da equipe de Fachin vão ajudá-lo a analisar os documentos.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, que aparece na lista da procuradoria-geral, afirmou que só irá se manifestar nos autos do processo. Ele disse, porém, que já contratou advogado para a sua defesa. Segundo o ministro, com o encaminhamento dos nomes ao STF, o “problema” deixou ser “especulação” do plano da política e passou para a esfera judicial. Moreira defendeu que agora é hora de trabalhar para evitar a contaminação da economia:

— Acho que agora todos nós, tanto no Executivo, quanto no Legislativo, temos que redobrar nossos trabalhos para colocar o Brasil nos trilhos — disse o ministro ao GLOBO.

Ele afirmou esperar que os nomes de todos os citados na lista sejam divulgados logo:

— Uma primeira leva de nomes já foi posta e, certamente, dentro de muito pouco tempo todos os nomes apresentados pelo Ministério Público serão do conhecimento de todos. A partir daí, a questão sai do plano da especulação da política e passa ao plano judicial. Então, teremos que constituir advogados e responder nos autos.

Também citada na lista de Janot, a expresidente Dilma Rousseff disse ontem que na Lava-Jato “sempre” há suspeitas contra ela, mas “nunca” provas ou indícios de participação direta. “Desde o início das investigações sobre a Operação Lava Jato, há quase três anos, nunca surgiram provas ou indícios do envolvimento direto de Dilma Rousseff em desvio de recursos públicos ou corrupção”, diz nota da petista. Ela voltou a criticar os “vazamentos seletivos” de delações premiadas, e declarou ainda que “suspeitas são sempre lançadas contra ela no terreno das ilações ou citações indiretas em conversas de terceiros”.

“Dilma Rousseff defenderá sua honra e provará sua inocência na Justiça, mesmo sem saber sequer do que está sendo acusada desta vez”, continua o texto divulgado pela equipe de Dilma.

O senador Renan Calheiros (PMDBAL), que mantinha silêncio desde a divulgação de que seu nome consta da lista, disse que ninguém deve se colocar acima das investigações:

— Eu sempre defendi qualquer investigação, desde que fui ministro acho que a investigação é a oportunidade para se demonstrar o contrário, e acho que nenhum homem público deve se colocar acima da investigação. Tenho colaborado e continuarei colaborando para esclarecer absolutamente tudo. Ninguém mais do que eu tem isso como objetivo.

O globo, n.30537 , 16/03/2017. País, p. 6