SINAL DE PERIGO

Mariana Alvim

Vera Araújo

16/03/2017

 

 

Exame do Instituto Evandro Chagas aponta que febre amarela matou macacos em cinco bairros

Um exame que aponta a febre amarela como causa da morte de cinco macacos no município do Rio aumentou a preocupação de autoridades da área de saúde: o diagnóstico indica o risco de o vírus da doença estar circulando pela cidade. Os animais — quatro saguis e um macaco-prego — foram recolhidos em outubro do ano passado nos bairros de Copacabana, Jardim Botânico, Gávea, Engenheiro Leal e Manguinhos. Uma análise de contraprova deve ser concluída esta semana pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pedido da Secretaria estadual de Saúde. Ontem, foram confirmados os primeiros dois casos da doença no estado, ambos em Casimiro de Abreu, na Baixada Litorânea. Watila Santos, de 38 anos, morreu; e Alessandro Valença Couto, de 37, está internado no Hospital dos Servidores, no Rio.

Na semana passada, exames realizados pelo Instituto Evandro Chagas, centro nacional de referência para a doença, no Pará, apresentaram diagnóstico positivo para febre amarela nos animais. Uma primeira análise da Fiocruz havia dado resultado inconclusivo.

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ANIMAIS NÃO SÃO TRANSMISSORES

Especialistas alertam que macacos são apenas hospedeiros, não transmitem a febre amarela. Os principais transmissores são os mosquitos Haemagogo e Sabethes, ambos silvestres. A ameaça, neste momento, seria a febre amarela na forma silvestre. Ainda não foi constatada a presença do vírus no Aedes Aegypti, potencial transmissor, o que traria risco maior para áreas urbanas. Eventuais notificações em cidades seriam motivo de grande preocupação pelo potencial de expansão da doença.

Este é o maior surto de febre amarela silvestre da história do Brasil. Há 1.538 casos suspeitos no país, sendo que 255 resultaram em óbitos. A maioria das notificações está concentrada em Minas Gerais. O Rio não registrava a doença desde 1907, quando foi erradicada graças a uma campanha sanitária lançada por Oswaldo Cruz. No país, não há registro de febre amarela do tipo urbano desde 1942.

No total, foram feitas análises em 21 macacos encontrados mortos no Rio. Bombeiros os levaram, em outubro do ano passado, ao Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman. De lá, foram enviados à Fiocruz, onde especialistas fizeram o exame molecular chamado de PCR, que deu negativo. Porém, o resultado foi considerado inconclusivo porque, segundo o secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira, o PCR só é confiável quando realizado até 24 horas após a morte. Os animais já chegaram ao laboratório em estado de decomposição.

A Fiocruz decidiu, então, enviar as amostras dos animais — vísceras — para o Instituto Evandro Chagas. Uma análise mais precisa para confirmação da febre amarela foi iniciada. O exame é chamado de imunohistoquímica e deu positivo em cinco animais. O resultado, fruto de uma análise com maior grau de confiabilidade, foi recebido pela Secretaria estadual no último dia 7. Agora, a Fiocruz repete os exames por medida de precaução.

O secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira, foi cauteloso ao falar sobre o assunto:

— Esse laudo é inconclusivo. Nós estamos checando outra vez esses exames, mas isso é com a Fiocruz. Vamos divulgá-los quando estiverem prontos.

Em nota, a Secretaria de Saúde observou que “tem compromisso em comunicar, com absoluta transparência, todas as informações de saúde pública referentes a testes, seja em primatas ou humanos, tão logo tais exames sejam definitivamente concluídos”.

Devido a relatos de que pessoas estariam matando primatas (numa tentativa equivocada de erradicar a febre amarela), o governo federal lançou uma campanha de conscientização. Seu objetivo é mostrar que os animais servem como “sentinelas”, chamando a atenção para a ocorrência da doença em determinadas regiões.

 
O globo, n.30537 , 16/03/2017. Rio, p. 11