Superávit da balança dispara em março

Cristiano Zaia, Rafael Bitencourt e Marta Watanabe

04/04/2017

 

 

A Operação Carne Fraca não afetou o mercado externo para as carnes brasileiras nem a balança comercial do país em março. O Brasil registrou no mês passado superávit de US$ 7,14 bilhões, saldo recorde para o mês desde 1989. Em março de 2016 o superávit foi de US$ 4,43 bilhões. A taxa de crescimento das exportações também foi a maior para o mês desde 2011.

Em março, o país exportou US$ 20,085 bilhões, 20,1% a mais que igual mês de 2016, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). A importação atingiu em março US$ 12,94 bilhões, com alta de 7,1%.

Puxado pela alta de preços das commodities, o avanço das exportações nos últimos meses levou a um saldo positivo de US$ 14,42 bilhões no acumulado até março. O superávit resultou de exportações de US$ 50,47 bilhões e importações de US$ 36,04 bilhões. No primeiro trimestre do ano passado, o saldo comercial foi de US$ 8,39 bilhões. O desempenho da balança nos últimos meses provocou a revisão pelo mercado das projeções de superávit comercial para o ano. Consultorias como Rosenberg Associados e a Tendências já elevaram as estimativas iniciais.

A Rosenberg elevou a projeção de US$ 40 bilhões para US$ 60 bilhões de superávit para 2017. O economista Rafael Bistafa diz que a revisão foi feita durante março e um dos fatores que pesou foi a evolução das exportações. A consultoria destaca que o resultado de março veio acima da expectativa, de superávit de US$ 6,5 bilhões. O saldo acumulado em 12 meses, ressalta o boletim da Rosenberg, avançou para superávit de US$ 53,8 bilhões, ante US$ 51 bilhões no mês anterior.

As exportações, diz Bistafa, estão sendo puxadas pelos preços das commodities, em nível mais alto do que o estimado anteriormente, principalmente para minério de ferro e petróleo. Segundo o Mdic, em março os preços desses itens avançaram 149,6% e 94,2% em relação ao mesmo mês de 2016, respectivamente. "Por enquanto não há sinais de que os preços estão cedendo. Além disso, a safra recorde de soja veio acima do esperado."

Do lado das importações, contribuiu para a nova projeção, explica o economista da Rosenberg, a revisão de 1% para 0,7% para o crescimento do PIB neste ano. Com isso, explica, o crescimento da economia não deve acelerar as importações como projetado anteriormente e, por isso, a pressão sobre o saldo comercial deve ser menor.

A Tendências também revisou a estimativa de balança comercial para o ano. O economista Silvio Campos Neto lembra que a consultoria refez a projeção em fevereiro, dos anteriores US$ 47,7 bilhões para US$ 50,7 bilhões. O que se vê nesse momento, diz, é um viés de alta para essa projeção de saldo.

"O número pode ser superado, embora se espere para o segundo semestre uma mudança de dinâmica com o ritmo das exportações se equilibrando e uma correção nos preços", diz Campos Neto. Ao mesmo tempo também se espera para o período, afirma, reação maior das importação por conta da recuperação da economia.

As revisões de projeção não são movimentos isolados. Pela segunda semana consecutiva melhoraram as expectativas para o saldo da balança comercial em 2017, segundo o relatório Focus, do Banco Central. A mediana das projeções para a balança saiu de superávit de US$ 49,5 bilhões para US$ 50,07 bilhões. Há um mês, a expectativa estava em US$ 47,3 bilhões.

O diretor do Departamento de Estatística e Apoio à Exportação do Mdic, Herlon Brandão, classificou o desempenho das exportações brasileiras em março como "bastante positivo".

Em março, a alta de 20,1% das exportações foi impulsionada pelos básicos, que avançaram 29,7% sempre em comparação a igual período de 2016, no critério da média diária. No acumulado até março, as exportações cresceram 20,4%, com alta de 34,7% nos básicos.

O desempenho das exportações se reflete no saldo com os principais parceiros comerciais. O superávit brasileiro com a China subiu de US$ 1,52 bilhão para US$ 5,97 bilhões do primeiro trimestre do ano passado para os mesmos meses deste ano. As exportações brasileiras para a China cresceram 57,7% nesse período enquanto a importação subiu apenas 1,9%.

O predomínio de básicos como soja, minério de ferro e petróleo na pauta de exportação para o país asiático, explica a elevação de saldo. Enquanto o embarque brasileiro total de minério de ferro e de petróleo cresceu 147,6% e 171,7%, respectivamente, no primeiro trimestre, a exportação de soja em grão avançou 35,6%.

Outro parceiro com o qual houve crescimento de superávit foi a Argentina. O saldo positivo com o país vizinho subiu de US$ 1,1 bilhão para US$ 1,69 bilhão no primeiro trimestre de 2016 para igual período deste ano. No caso da Argentina, explica José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a exportação é puxada por manufaturados, principalmente automóveis e veículos de carga. O embarque brasileiro total dos dois itens no trimestre cresceu 36,9% e 62,7%, respectivamente.

Castro ressalta que contribui para o crescimento a baixa base de comparação. Mesmo assim, avalia, o fato de as exportações para os argentinos terem crescido por três meses consecutivos já permite dizer que as vendas também começam a ser favorecidas pela recuperação da economia argentina. A exportação brasileira total de manufaturados subiu 12,3% para US$ 7,2 bilhões em março. No acumulado, a alta foi de 8,1%.

Em relação a petróleo e derivados, a balança brasileira registrou em março superávit de US$ 2,29 bilhões - US$ 6,424 bilhões em exportações e US$ 4,135 bilhões em importações. Em março do ano passado, a conta petróleo foi deficitária em US$ 816 milhões.

O executivo da AEB diz que, mesmo com o desempenho das exportações no primeiro trimestre, a entidade ainda não revisou a projeção de balança para o ano, que já estava em US$ 51,6 bilhões de superávit. Para ele, é preciso observar o comportamento dos preços das commodities que, na sua avaliação, ainda devem passar por processo de ajuste. Ele lembra que esse preços iniciaram a recuperação no último trimestre de 2016. Nesse período, portanto, as variações de exportações devem passar a ter base maior de comparação.

Fabio Silveira, da MacroSector, também avalia que é cedo para revisar a estimativa de balança. A consultoria projeta superávit de US$ 43 bilhões para o ano. Além do comportamento das exportações, diz Silveira, é preciso observar as importações, que ainda podem acelerar com a recuperação da economia.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4228, 04/04/2017. Brasil, p. A3.