Empresa ligada a Eunício recebeu R$ 164 milhões

Cleide Carvalho 

22/03/2017

 

 

Investigada em operação, Confederal tem contratos com órgãos federais como Fazenda, Transportes e Saúde

-SÃO PAULO- A Confederal, empresa alvo da primeira operação feita com base em delações da Odebrecht, é uma das companhias controladas pela Remmo Participações, do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e recebeu R$ 164 milhões por contratos firmados em órgãos vinculados ao Ministério da Saúde, da Fazenda e dos Transportes no período entre 2010 e 2014. Segundo dados do Portal da Transparência, apenas em 2014, o valor recebido pela empresa alcançou R$ 55 milhões.

Segundo a declaração de bens apresentada pelo senador à Justiça Eleitoral, em 2014, quando concorreu ao governo do Ceará, ele detinha 99,99% da Remmo Participações, controladora da Confederal e também da Corpvs.

O presidente do Senado afirma que se afastou de todas as atividades operacionais, econômicas e financeiras das empresas desde 1998, legalmente, e elas estão declaradas à Receita Federal e registradas em todos os demais órgãos de controle e fiscalização, incluindo a Justiça Eleitoral.

A Corpvs obteve contratos no valor de R$ 78,9 milhões para prestar serviços de vigilância e transporte de valores a agências do Banco do Brasil no Ceará, estado natal do senador. Em 2015, o banco contratou também a Confederal para prestar serviços em Goiás, Tocantins e São Paulo, com três contratos no valor de R$ 52,6 milhões. O maior deles, de R$ 26 milhões, tem como objeto serviços de segurança pessoal privada e condução de pessoas, válido até abril de 2019.

DENÚNCIA NA PETROBRAS

Em 2011, uma das empresas do senador, a Manchester, do ramo de limpeza e serviços gerais, foi alvo de denúncia de fraude em licitação da Petrobras, num contrato de R$ 300 milhões. Entre 2007 e 2011, a empresa havia fechado quase R$ 1 bilhão em contratos com a Petrobras. Na época, a assessoria do senador informou que ele havia deixado a administração da empresa em abril de 1998 e, em 2011, transferiu suas cotas para os antigos sócios.

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Presidente do Senado já foi citado por delatores

22/03/2017

 

 

Eunício diz estar tranquilo e que inquérito no STF é ‘caminho natural’

-BRASÍLIA- O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), já havia sido citado por pelo menos dois delatores que firmaram acordos na Operação Lava-Jato. Nelson de Mello, ex-diretor do grupo Hypermarcas, afirmou que Eunício recebeu R$ 5 milhões para a campanha ao governo do Ceará, em 2014, por meio de contratos com empresas de fachada indicadas pelo lobista Milton de Oliveira Lyra Filho.

O procurador Rodrigo Janot declarou ao Supremo Tribunal Federal (STF) suspeição para investigar o caso, por motivo de foro íntimo. O ex-senador Delcídio Amaral também apontou Eunício Oliveira como um dos integrantes do “núcleo duro” do PMDB que teria recebido propinas das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O senador nega todas as acusações.

Eunício afirmou ontem ter “absoluta convicção” de que a verdade será restabelecida nas investigações sobre a empresa Confederal.

— Eu queria, diante dos fatos de hoje, dizer que todos vocês já têm conhecimento, que, no ano de 2014, quando fui candidato a governador do Ceará, autorizei que fossem buscadas contribuições eleitorais dentro da lei. Portanto, estou muito tranquilo, sei que os fatos serão apurados pelo Supremo Tribunal Federal, e o lugar adequado é lá. O inquérito é um processo natural. Tenho absoluta convicção de que a verdade será restabelecida — disse Eunício, que ontem comandou uma reunião de líderes dos partidos do Senado para definir a pauta de votações no Senado.

O advogado Aristides Junqueira, que defende o presidente do Senado, informou por meio de nota que, em 2014, durante o processo eleitoral, o senador “autorizou que fossem solicitadas doações, na forma da lei, à sua campanha ao governo do estado do Ceará”.

“O pedido de abertura de inquéritos no STF, destinados a apurar versões de delatores, cujos conteúdos desconhece, é o caminho natural do rito processual. O senador tem a convicção que a verdade dos fatos prevalecerá”, diz a nota.

“Tenho absoluta convicção de que a verdade será restabelecida”

Eunício Oliveira (PMDB-CE)

Presidente do Senado

 

O globo, n. 30543, 22/03/2017. País, p. 5