Hilberto, o irônico

André de Souza

20/04/2017

 

 

O ENGRAÇADINHO - Chefe do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, o setor de propina, Hilberto Mascarenhas esbanja sarcasmo com procuradores e até com Marcelo Odebrecht

Hilberto Mascarenhas, um dos 78 executivos da Odebrecht que estão colaborando com as investigações da Operação Lava-Jato, é um delator bem-humorado. Risadas, provocações e ironias aparecem aos montes ao longo dos depoimentos que ele prestou em dezembro do ano passado. Ninguém escapava. Entre seus alvos estão políticos, empresários, e até mesmo seus chefes e os procuradores da Lava-Jato. Para sorte dele, seus interrogadores pareceram não se incomodar com as piadas e até embarcaram em algumas de suas brincadeiras.

Em 15 de dezembro, Hilberto, que chefiava o chamado “departamento da propina”, explicava como funcionava o pagamento de bônus não contabilizados a executivos. Após vários questionamentos, um dos investigadores demonstra entender a explicação do delator, que ironizou: — Exatamente. Fico feliz que o senhor tenha entendido.

— Obrigado. A gente consegue de vez em quando — devolveu o interrogador.

No mesmo dia, ao fim de um de seus depoimentos, ninguém na sala demonstrou interesse em fazer perguntas. Hilberto não se segurou e disparou o seu próprio questionamento:

— Pergunte. Pergunte. A senhora está curiosa para perguntar — disse, aos risos.

Em 14 de dezembro de 2016, ele fez planos para o futuro, e expressou o desejo de se livrar da pressão da lei.

— Eu quero curtir a minha vida quando vocês tirarem esse negócio do meu pé e eu puder viajar.

No mesmo dia, ao ser questionado sobre onde morava o empresário Samir Assad, preso pela Lava-Jato, Hilberto respondeu de forma séria que ele vive em São Paulo e levou um copo d’água à boca, mas interrompeu o movimento antes de beber, e emendou:

— Hoje ele tá morando na Papuda (prisão em Brasília), parece. Outra pessoa citada no depoimento mereceu tratamento de intimidade. Em 15 de dezembro, ao ser indagado sobre o nome de uma planilha intitulada “Italiano”, ele explicou que se tratava do ex-ministro Antonio Palocci, a quem chamou de “nosso”.

— A partir de um codinome que foi criado de “Italiano” para o nosso Palocci — contou Hilberto.

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COMPUTADOR NO MAR

Nem mesmo Marcelo Odebrecht escapou das piadas. Hilberto relatou objetos de uso pessoal que foram apreendidos durante o cumprimento de um mandado de busca apreensão da Polícia Federal (PF), o qual ele chamou de “visita”. Depois alfinetou o chefe.

— Eles foram lá, procuraram, levaram meu celular, meu computador novo que eu comprei, meu Ipad. E eu dei todas minhas senhas porque eu não tinha o costume de guardar (informações sobre os negócios) nessas ferramentas. E Marcelo vivia enchendo o saco da gente para não ter nada guardado no nosso, e quando ele foi preso, no dele tinha tudo — afirmou o delator.

Hilberto contou ainda ter jogado um computador no mar, em Miami, com o objetivo de destruir provas. Mas ficou chateado com isso, porque não teve tempo para copiar arquivos pessoais.

O globo, n.30572 , 20/04/2017. País, p. 4