Estado de São Paulo, n. 45078, 19/03/2017. Economia, p. B7

UE pede que Brasil explique fraude da carne

Bloco europeu quer explicações para continuar importando produto; diplomatas vão se reunir

Por: Jamil Chade

 

As autoridades da Europa querem explicações por parte do Brasil em relação às revelações sobre a corrupção nos certificados de carne no País. O bloco europeu, que importa o produto nacional, pediu esclarecimentos sobre o que as investigações apontaram e se as vendas ao exterior também tem sido alvo de propinas por parte de empresas.

Uma reunião entre o Mercosul e a UE está marcada para ocorrer no final deste mês em Buenos Aires, com o debate sobre as ofertas de liberalização entre as duas partes e, em especial, a situação sanitária do comércio. Mas fontes brasileiras confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que, antes disso, uma reunião de emergência deve ocorrer entre as partes na próxima semana.

Do lado brasileiro, o objetivo é o de garantir que as revelações não fechem as portas da Europa para o produto nacional.

Aikaterini Apostola, porta-voz de Saúde e Segurança Alimentar na Comissão Europeia, disse à reportagem que Bruxelas está acompanhando as investigações no Brasil. “Estamos de fato em contato e pedindo esclarecimentos da parte das autoridades brasileiras”, disse.

De acordo com a Comissão Europeia, seu sistema de identificação de eventuais problemas nos alimentos importados não registrou qualquer alteração na carne nacional por dois anos. “Até o momento, não registramos nenhuma irregularidade com certificados de saúde relacionados com a carne do Brasil desde 2015”, disse a porta-voz, indicando que deverá ter novas informações sobre os contatos bilaterais nos próximos dias.

 

Pressão. Desde sexta-feira, a Comissão passou a ser pressionada pela Confederação Europeia de Produtores Agrícolas que pretende usar o caso das propinas no Brasil para tentar impedir um acordo com o Mercosul e mesmo um aumento de exportações nacionais.

Para a entidade, o Brasil não tem o mesmo padrão de segurança alimentar que a Europa e um acordo entre europeus e o Mercosul não pode prever uma maior abertura comercial enquanto as condições não sejam iguais nos dois lados do Atlântico.

“Essa diferença de qualidade ficou claro pelo caso no Brasil, no qual mais de 30 representantes de alto escalão do setor agroalimentar foram presos por não atender às exigências veterinárias no setor de carnes”, disse o secretário-geral das cooperativas agrícolas da Europa, Pekka Pesonen.

No ano passado, os dois blocos comerciais apresentaram uma lista do que poderiam abrir em termos aduaneiros. Mercosul liberaria o setor industrial, e a Europa reduziria tarifas para as exportações agrícolas dos países sul-americanos.

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Executivo da BRF é preso no desembarque

Por: Camila Turtelli

 

O gerente de Relações Institucionais da BRF, Roney Nogueira, um dos acusados da operação Carne Fraca da Polícia Federal, foi preso na madrugada deste sábado ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos (SP). Ele estava na África do Sul, quando teve o mandado de prisão expedido na sexta-feira. A informação foi confirmada pela BRF que disse, por meio de sua assessoria, que ele se apresentou espontaneamente e vai prestas todos os esclarecimento às autoridades em São Paulo.

Segundo o despacho da Justiça, divulgado ontem, Nogueira teria negociado a liberação ilegal de carne de frango com salmonela juntamente com fiscais do Ministério da Agricultura. A denúncia traz reproduções de conversas telefônicas do executivo e aponta que ele estaria envolvido no esquema de fraude de documentos e adulteração de carne, como uma ponte entre empresa e governo federal.

Ainda de acordo com a investigação, Nogueira teria usado sua influência junto aos fiscais para habilitar uma das unidades da empresa a exportar carne de peru para Malásia - o Brasil conquistou a habilitação para exportar carne de peru para o país asiático em junho de 2011.

 

Carne bovina. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), principal representante no País da indústria de carne bovina brasileira, afirmou que nenhuma planta de carne bovina dos seus 29 associados está citada na denúncia de esquema entre frigoríficos e fiscais agropecuários federais para comercialização de alimentos adulterados. A instituição se pronunciou apenas ontem sobre a operação da PF. “As indústrias associadas a Abiec seguem rígidas normas e padrões nacionais e internacionais de segurança para a produção e comercialização de carne bovina destinada tanto ao mercado interno quanto aos mais de 133 países para os quais exportamos”, afirmou a associação em nota.

 

PARA LEMBRAR

Carne fraca e corrupção

Batizada de “Carne Fraca” a megaoperação deflagrada pela Polícia Federal revelou um grande esquema de corrupção envolvendo empresas de alimentos e fiscais do Ministério da Agricultura. Fiscais, que deveriam emitir certificados de que os produtos estavam de acordo com as regras sanitárias, recebiam propina para liberar documentos sem fiscalização. As fraudes incluíam uso de carne estragada na composição de salsichas e linguiças, a “maquiagem” de carnes estragadas com substâncias que mascaravam seu cheiro, entre outras.