EX-DIRIGENTE DIZ QUE NEGOCIOU DOAÇÃO COM ALCKMIN

14/04/2017

 

 

Repasse teria sido de R$ 2 milhões; governador nega as acusações

 Até então citado apenas lateralmente em denúncias de caixa dois para campanhas eleitorais, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), negociou diretamente uma doação de campanha feita por caixa dois, de acordo com um delator da Odebrecht. Segundo o relato de Carlos Armando Paschoal, ex-dirigente da empresa em São Paulo, o tucano pediu uma ajuda financeira à sua campanha de 2010 que foi feita de maneira ilegal.

Paschoal disse que, ao final de uma reunião com Alckmin, o tucano entregou a ele um cartão do cunhado, Adhemar Ribeiro, que seria responsável por receber R$ 2 milhões.

A transação, de acordo com o executivo, foi “operacionalizada” para o então candidato por meio do sistema Drousys, utilizado para o registro de valores não contabilizados.

Segundo os depoimentos de Paschoal e de Benedicto Junior, o BJ, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, o pagamento foi feito a pedido de Aluizio de Araujo, ex-acionista da Odebrecht, morto em 2014. Ele relatou ainda que o depósito foi feito para o codinome “Belém”.

“Quando acabou a reunião, o doutor Alckmin pediu à secretária um cartão. E disse: ‘esse é o meu cunhado (Adhemar)’. Aqui o que a gente combinou com o doutor Araújo”, disse Paschoal, acrescentando que as entregas foram divididas em parcelas que variavam de R$ 100 mil a R$ 200 mil.

O dinheiro, disse o delator, foi entregue num endereço na Avenida Brigadeiro Faria Lima até setembro de 2010.

Benedicto Junior afirmou que autorizou o repasse a Alckmin porque se tratava de um político que poderia chegar à Presidência.

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R$ 8,3 MILHÕES EM 2014

Como contrapartida, o executivo disse que a companhia esperava ser beneficiada em obras no estado e que havia interesse em contratos de Parcerias Público-Privadas.

“Ele (Alckmin) era um expoente que tinha um espaço no cenário nacional. Acreditávamos que em algum momento ia ter uma alternância de poder no país. E ele tinha um manejo importante no estado de São Paulo. Queríamos manter essa relação fluída, sem nenhum óbice. E havia expectativa de novas contratações, já que mesmo impactado pela crise o estado continuou fazendo novos investimentos”, disse o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura.

Benedicto também afirmou que a empreiteira fez um repasse de R$ 8,3 milhões de caixa 2 ao tucano na campanha à reeleição em 2014. Desta vez, o pedido teria partido do ex-secretário de Planejamento e ex-tesoureiro do partido Marcos Monteiro. O repasse teria sido feito em nome do apelido “MM”.

Em nota, o governador paulista negou as acusações e disse que nunca cometeu nenhum tipo de irregularidade em suas campanhas eleitorais: “Em mais de 40 anos de vida política, jamais recebi recursos irregulares ou autorizei que o fizessem em meu nome. Todas as minhas campanhas foram aprovadas pelos órgãos de controle porque sempre exigi que elas fossem realizadas de acordo com a lei.”

 

O globo, n.30566 , 14/04/2017. País, p. 4