ODEBRECHT: PAES NÃO TEVE VANTAGENS PESSOAIS

Benedicto Júnior

14/04/2017

 

 

Ex-executivo disse, em delação, que ex-prefeito recebeu dinheiro em caixa dois para campanha

Responsável pelo “departamento de propina” da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior disse, em delação premiada, que o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes foi informado que as doações de campanha pedidas por ele seriam feitas por meio de caixa dois. Apesar do repasse de recursos, o ex-executivo afirmou que a empreiteira não foi favorecida em obras da prefeitura e que Paes não recebeu benefícios pessoais.

“Nunca me pediu nada nas licitações, nos negócios, até pelo estilo dele, muito impositivo. Ele tinha o apelido de nervosinho. Ele não gerava ambiente que propiciasse alguma troca, era bastante seco, não era uma pessoa afeita a ter relações pessoais fora do ambiente em que estava sendo tratado”, disse Benedicto Júnior, ao ser perguntado pelos procuradores se Paes recebeu benefícios pessoais.

O ex-executivo da Odebrecht também negou que o relacionamento com Paes tenha influenciado diretamente nos negócios da empreiteira no Rio:

“A gente acabou tendo uma relação que viabilizou várias PPPs (Parcerias Público-Privadas) e eu não posso dizer que o prefeito definiu A, B ou C para me trazer. (...) Eu não posso lhe assegurar que ele gerou esse benefício (participação nas licitações). A gente criou as oportunidades e materializamos”.

Segundo Benedicto Júnior, Paes fez dois pedidos de contribuição para sua campanha à prefeitura do Rio, em 2008, de R$ 650 mil e de R$ 510 mil. Os dois repasses foram feitos por caixa dois, de acordo com o ex-executivo da Odebrecht.

“No momento em que ele me pediu (as doações), eu informei que os valores eram muito acima dos (doados) para um candidato a prefeito e que eu teria que fazer via caixa dois. Ele entendeu e não me questionou”, disse Benedicto Júnior.

Ainda de acordo com ele, a empreiteira doou, na campanha de Paes à reeleição, em 2012, R$ 11,6 milhões “em espécie”, no Brasil, e 5,5 milhões de dólares, em duas contas no exterior.

“Na reeleição do prefeito, ele me procurou, obviamente era uma eleição de renovação de termo, mais competitiva, ele fez um pedido maior. Na época, eu achei o valor um pouco fora, mas, tendo em vista a projeção de negócios que tínhamos no Rio de Janeiro, principalmente no campo privado das PPPs, achei que deveria fazê-lo”, afirmou Benedicto Júnior.

O ex-executivo da empreiteira disse ainda aos procuradores que tinha “mais um ilícito” para contar: a doação de R$ 300 mil, a pedido de Paes, para a campanha de Pedro Paulo (PMDB) a deputado federal em 2014, também via caixa dois.

Benedicto Júnior afirmou que há registro no sistema de informática Drousys, que computava o pagamento de propinas pela Odebrecht, das doações feitas para a campanha de 2008. E que há comprovante dos repasses de 5,5 milhões de dólares, em 2012, para duas contas no exterior indicadas por Pedro Paulo.

O ex-executivo disse que colocou o codinome “nervosinho” em Paes “tendo em vista que é uma pessoa muito elétrica, muito intensa nas suas conduções”.

O globo, n.30566 , 14/04/2017. País, p. 7