Restrição à carne já alcança 18 países

Lu Aiko Otta

24/03/2017

 

 

Ontem, ministro da Agricultura levou grupo de chineses a frigorífico em Goiás

 

 

 

Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Agricultura mostra que subiu para 18 o número de mercados internacionais que já adotaram algum grau de restrição à entrada da carne brasileira após a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Outros quatro mantiveram o mercado aberto, mas intensificaram a fiscalização. E três enviaram pedidos de informação ao Brasil.

Ontem, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, dedicou o dia a prestar esclarecimentos à imprensa internacional em relação à operação, tentando reduzir os danos às exportações nacionais. Pela manhã, concedeu entrevista a jornalistas dos Estados Unidos, Oriente Médio e Europa.

À tarde, levou representantes da imprensa chinesa para visitar uma planta da BRF em Rio Verde (GO). No frigorífico, ele comentou que jornalistas e câmeras jamais seriam admitidos na linha de produção, em condições normais. “Quando estamos em guerra, as regras são flexibilizadas”, disse.

Há especial preocupação em reabrir o mercado chinês, um importante comprador de produtos brasileiros. Ontem, o presidente Michel Temer disse que telefonaria para o presidente da China, Xi Jinping, para dar explicações sobre as medidas adotadas pelo governo brasileiro após a operação policial e para assegurar a qualidade do produto brasileiro.

 

Nova regulamentação. No próximo dia 29, o governo federal pretende lançar o novo regulamento de inspeção sanitária. As regras atualmente em vigor foram criadas em 1952. Também será lançado um plano nacional de defesa agropecuária. Essas medidas já estavam em preparação antes de a Operação Carne Fraca ser divulgada. Os dados mostram que o foco de preocupação do ministério permanece. Hong Kong e China seguem sem permitir o desembaraço aduaneiro das cargas de carne e derivados que chegam ao país. A restrição atinge todos os exportadores brasileiros, e não apenas aqueles envolvidos na investigação da Polícia Federal.

Além desses dois países, suspenderam temporariamente suas importações do Brasil: Chile, Argélia, Jamaica, Trinidad e Tobago, Panamá, Qatar, México, Bahamas e São Vicente de Granadina.

Por outro lado, três importantes mercados, o Japão, a União Europeia e o Egito, suspenderam as compras apenas dos frigoríficos alvos da operação. Também estão nesse grupo a África do Sul, a Suíça, a Arábia Saudita e o Canadá.

Os Estados Unidos mantiveram seu mercado aberto ao produto brasileiro, apenas reforçando os controles sanitários.

A mesma coisa fizeram o Vietnã, a Coreia do Sul e a Malásia. A Rússia, outro grande comprador de carne brasileira, enviou apenas um pedido de informações.

Também fizeram isso Israel e Barbados. Mesmo os mercados que continuam abertos não estão recebendo carne das unidades que foram alvo da operação. Por decisão do governo brasileiro, esses frigoríficos não têm recebido licenças de exportação.

 

PARA LEMBRAR

Deflagrada na última sexta-feira, dia 17, pela Polícia Federal, a Operação Carne Fraca investiga um esquema de facilitação de liberação de produtos adulterados, por parte de fiscais do Ministério da Agricultura, que, com o pagamento de propina, emitiam certificados sanitários. A fraude envolveria a venda de produtos estragados, fora da validade ou com substâncias nocivas à saúde. Alguns dos maiores frigoríficos do País, como JBS (dono das marcas Friboi e Seara) e BRF (que controla Sadia e Perdigão), foram alvo da operação.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45083, 24/03/2017. Economia, p. B3.