Temer: ‘Jamais colocaria minha biografia em risco’

Leticia Fernandes

14/04/2017

 

 

Presidente rebate acusação de ter pedido repasse de US$ 40 milhões

O presidente Michel Temer foi a público ontem se defender das acusações de que teria negociado US$ 40 milhões para o PMDB na eleição de 2010, conforme afirmou em sua delação o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria. Em um vídeo de pouco mais de um minuto, gravado ontem em Brasília e divulgado em suas redes sociais, Temer confirma que se reuniu naquele ano com um representante de “uma das maiores empresas do país”, mas diz ser mentira que tenha negociado qualquer tipo de valor ou feito tratativa escusa para campanhas eleitorais.

O presidente afirma ter “repulsa” aos relatos, que qualifica como “mentirosos” e que constam nas delações dos executivos da Odebrecht, tornadas públicas na terça-feira pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). No vídeo, Temer diz que “jamais” comprometeria sua biografia.

— É fato que participei de uma reunião em 2010 com o representante de uma das maiores empresas do país. A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos. Isso jamais aconteceu, nem nessa reunião, nem em qualquer outra reunião que eu tenha feito ao longo de minha vida pública com qualquer pessoa física ou jurídica. Jamais colocaria a minha biografia em risco — disse Temer.

O peemedebista afirmou ainda que tem como sua “maior aliada” a verdade, que também seria “matéria prima do Poder Judiciário”, que, segundo ele, “revelará toda a verdade dos fatos”.

Segundo a delação de Márcio Faria da Silva, o encontro com Temer em 2010, quando ele era candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, aconteceu no escritório do peemedebista em São Paulo, e o valor seria referente a 5% de um contrato da Odebrecht com a Petrobras. Além de Temer, também participaram da reunião, segundo delatores da Odebrecht, os exdeputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

— Totalmente vantagem indevida, porque era um percentual em cima de um contrato — disse Faria no depoimento, quando perguntado se havia ficado claro na reunião que o repasse era relativo a pagamento de propina.

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA

A divulgação da lista de Fachin caiu como uma bomba para os integrantes da equipe econômica do governo, responsáveis pela elaboração da proposta de Reforma da Previdência. A expectativa, agora, é que a matéria só seja aprovada pelo Senado no segundo semestre. A previsão anterior era que a PEC passasse por Câmara e Senado até 30 de junho.

Uma fonte comentou que os últimos recuos do presidente Michel Temer em negociação com o relator da PEC, deputado Arthur Maia (PPS-BA) — também citado pelos delatores da Operação Lava-Jato — são prova que tudo será feito para aprovar a reforma no Congresso, mesmo com mudanças importantes que diminuam o impacto fiscal da proposta original.

O globo, n. 30566, 14/04/2017. País, p. 8