Empresa redigiu para Jucá emenda de MP

Gabriela Valente

14/04/2017

 

 

Claudio Melo afirmou que senador recebeu vantagens indevidas da Odebrecht

 Em depoimentos à forçatarefa da Operação Lava-Jato, o lobista da Odebrecht Claudio Melo afirmou que a empresa chegou a escrever as emendas que deveriam ser colocadas pelo senador Romero Jucá (PMDBRR) no texto de uma medida provisória que tramitava no Senado. Pela ajuda constante, o político era chamado de “o resolvedor". Melo informou que deu vantagens indevidas ao hoje líder do governo na Casa para que matérias de interesse da empresa fossem aprovadas. O executivo disse que houve quatro propostas com interferência da companhia.

No depoimento ao Ministério Público Federal, Claudio Melo disse que durante a tramitação da MP 651, que dava estímulos às empresas abaladas pela crise, quatro emendas foram apresentadas pela Odebrecht.

“Foram levadas a ele, a pedido da empresa, algumas emendas e que foram por ele apresentadas (no texto). Mais precisamente a 259, 262, 271 e 272”, detalhou o lobista. “A gente entregava as notas técnicas e fazia essa discussão".

Segundo o delator, Jucá pretendia ser relator dessa matéria, mas acabou sendo o presidente da comissão que analisou a Medida Provisória. Perguntado se houve algum pagamento de vantagem indevida, ele respondeu:

“No ano de 2014, o senador não era candidato a nenhum cargo eletivo, mas em determinado momento, ele me disse que o filho dele era candidato a vice-governador do estado de Roraima...”. Neste momento, o vídeo disponibilizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é cortado.

Além da MP apelidada de “Pacote de Bondades", Claudio Melo cita ainda a medida provisória da “Guerra dos Portos", sem detalhar o número. Ele diz que, na tramitação dessa matéria, foi a primeira vez em que negociou vantagem indevida vinculada à aprovação da proposta. Até então, havia apenas doação de campanha.

"O senador Romero Jucá em algumas oportunidades dizia que os temas de discussão que a gente estava tendo, ele fazer a defesa certamente teria uma simpatia e a defesa do senador Renan Calheiros. Mas eu não tratei esse assunto com o senador Renan Calheiros”, disse Claudio Melo.

Jucá tem afirmado que desconhece a delação de Cláudio Filho e que está “à disposição da Justiça para prestar quaisquer esclarecimentos”.

O lobista conta ainda que, a partir da entrada de Marcelo Odebrecht no comando da empresa, a equipe de Brasília passou a fazer um acompanhamento mais intenso de tramitação de MPs. No entanto, ressaltou que havia corrupção antes disso.

O ex-executivo citou rapidamente que houve pedidos de políticos baianos como Geddel Vieira Lima (PMDB) e Jaques Wagner (PT). Não detalhou, entretanto, as negociações. E disse que a Lava-Jato é importante para tentar alterar a realidade de como se faz política.

“A gente está tentando realmente mudar esse jogo".

O globo, n.30566 , 14/04/2017. País, p. 8