Lindbergh teria ajudado empresa após repasse

Eduardo Bresciani

14/04/2017

 

 

Delatores afirmam que senador auxiliou construtora depois de receber R$ 2 milhões

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) atendeu a interesses da empreiteira Odebrecht em um programa de moradia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, depois de ter recebido contribuições da empresa para sua campanha por meio de caixa dois. A afirmação é dos delatores que trabalhavam na construtora. A Odebrecht venceu um lote da licitação em um cartel com outras duas companhias e conseguiu que os trechos da obra fossem reunidos, o que gerou economia para as construtoras envolvidas.

Segundo o ex-executivo Leandro Azevedo, houve um “acordo de mercado” entre Odebrecht, Carioca Engenharia e Mello de Azevedo na licitação do programa “Pró-Moradia”. Após a vitória, as empresas procuraram Lindbergh e conseguiram que os três lotes fossem reunidos e as obras fossem tocadas em formato de consórcio.

De acordo com o relato, o atendimento ao pleito foi uma contrapartida de Lindbergh a uma doação de R$ 2 milhões por meio de caixa dois que ele recebeu em 2008, em sua campanha para a reeleição na prefeitura. O codinome usado para esse pagamento de 2008 foi “Feio”. A doação foi recebida depois que Lindbergh procurou Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht, junto com um marqueteiro.

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PAGAMENTO A MARQUETEIRO

Dois anos depois, quando o petista conseguiu chegar ao Senado, a Odebrecht pagou R$ 2,5 milhões a Antônio Caminho, que seria o responsável pelo marketing da campanha de Lindbergh. Este pagamento também não teria sido feito de forma oficial. Nesse caso foram usados os codinomes “Feio” e “Lindinho” para identificar os repasses.

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), há indícios de corrupção no caso relatado. “O recebimento de valores a pretexto de doação eleitoral pode configurar verdadeiro ato de corrupção com um lastro de dependência entre recebedor e doador que pode ser cobrado imediata ou futuramente”, afirma o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Lindbergh afirmou no dia em que a lista foi divulgada que está convicto de que o caso será arquivado pelo Supremo. “Mais uma vez, confiarei que as investigações irão esclarecer os fatos e, assim como das outras vezes, estou convicto que o arquivamento será único desfecho possível para esse processo. Novamente, a justiça será feita”, disse o petista.

O senador constava da primeira lista de Janot, de 2015. Ele foi acusado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de ter recebido R$ 2 milhões, em 2010, de recursos desviados da estatal. Paulo Roberto disse que o repasse teria sido operacionalizado pelo doleiro Alberto Yousseff, mas este negou ter feito este pagamento.

Após quase dois anos de investigação, o inquérito foi arquivado em fevereiro após a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República afirmarem que não tinham conseguido juntar provas que comprovassem o relato inicial.

O globo, n.30566 , 14/04/2017. País, p. 6