'Emenda, por R$ 150 mil, nem na feira do Paraguai' 

15/04/2017

 

 

Senador Romero Jucá (PMDB-RR) nega ter recebido propina para alterar propostas em tramitação no Senado

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou ontem a acusação de que recebeu propina da Odebrecht para alterar propostas em tramitação na Casa. Em entrevista ao jornalista Jorge Bastos Moreno em seu programa “Moreno no Rádio”, na CBN, o senador disse que “emenda por R$ 150 mil não se vende nem na feira do Paraguai” e que jamais faria “um absurdo desses”.

— Não tem sentido alguém pensar que se vende emenda por R$ 150 mil. Com R$ 150 mil não se vende (emenda) nem na feira do Paraguai. É uma piada — afirmou Jucá.

A declaração do líder do governo veio após a delação premiada do lobista da Odebrecht Claudio Melo. O executivo afirmou que a construtora interferiu na tramitação de quatro Medidas Provisórias (MP), chegando a escrever as emendas que deveriam ser incluídas pelo senador no texto.

Em seu depoimento, Melo contou ainda que, a partir da entrada de Marcelo Odebrecht no comando da empresa, a equipe de Brasília passou a fazer um acompanhamento mais intenso da tramitação de MPs. Ressaltou, no entanto, que já havia corrupção antes disso. Jucá rebateu as acusações.

— Minha função é discutir com o governo e com os parlamentares as soluções e tentar o ‘OK’ do governo, senão nada funciona. Quem fala isso não conhece como funciona o Congresso — disse Jucá, afirmando que está tranquilo para responder a qualquer investigação:

— Sou daqueles que defendem a Lava-Jato. Ela mudou o paradigma da política do Brasil.

O líder do governo no Senado acrescentou que “aplaude” o ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), por estar “agindo corretamente”. Porém afirmou que é preciso ter cuidado para não condenar ninguém antecipadamente.

— Pelo que vi, (as delações) não vieram seguidas de provas. Muitas vezes podem ser “ficções premiadas” para alguém (preso) ir para casa.

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Delator afirma que pagou ‘mesada’ a Okamotto

15/04/2017

 

 

Assessor de Lula teria recebido R$ 10 mil por seis meses; ele nega

O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar detalhou, em depoimento ao Ministério Público, como a empreiteira fez “doações” ao Instituto Lula e manteve por seis meses uma mesada de R$ 10 mil ao presidente do órgão, Paulo Okamotto.

O depoimento faz parte da petição 6.780, uma das seis enviadas pelo ministro Edson Fachin à primeira instância em que Lula é alvo.

Alexandrino afirmou que suas relações com Okamotto se estreitaram após a criação do Instituto Lula, no fim do segundo mandato do petista. O ex-executivo relatou que Okamotto parecia estar passando por “dificuldade financeira”: “Me propus a ajudá-lo durante um período finito, com recursos, e durante cinco ou seis meses, alguma coisa assim, eu dei R$ 10 mil por mês, em espécie”.

De acordo com o ex-executivo, o valor escolhido foi “arbitrário” e houve a preocupação de que ele não fosse “ostensivo”, sem ofender Okamotto. Alexandrino afirmou que recebia os recursos em seu escritório de um funcionário do setor de operações estruturadas da Odebrecht e repassava pessoalmente ao presidente do Instituto Lula.

PALESTRAS A US$ 200 MIL

O ex-executivo também revelou que representantes da Odebrecht reuniram-se para encontrar um meio de remunerar Lula, “em face do que realizou enquanto presidente ao grupo”. A maneira encontrada foi um projeto de palestras — o valor determinado foi de US$ 200 mil cada e teve como referência o preço cobrado pelo ex-presidente Bill Clinton em suas apresentações. Segundo Alencar, a atividade seria uma forma “republicana” para que Lula tivesse uma renda após seu mandato.

Nas planilhas da Odebrecht, Lula é mencionado como “Amigo”, e Okamotto é chamado de “Tóquio”.

Em nota, Paulo Okamotto afirmou que não recebeu nenhuma mesada de Alexandrino Alencar.

 

O globo, n. 30567, 15/04/2017. País, p. 5