Discrição e técnica em hora conturbada no TCE

Juliana Castro

08/04/2017

 

 

Alçada subitamente a presidente interina do tribunal após a prisão de todos os demais conselheiros, Marianna Willeman tenta fazer a Corte funcionar, evitando o protagonismo
 
Há menos de dois anos no cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Marianna Montebello Willeman, de 40 anos, viu-se, de uma hora para outra, no olho do furacão. No último dia 29, quando a Polícia Federal prendeu cinco conselheiros do tribunal, só ela não foi alvo da operação. O delator do caso, o ex-presidente do TCE-RJ Jonas Lopes de Carvalho, salientou, por mais de uma vez, que ela era a única que não estava envolvida no esquema de corrupção que envolveu todos os demais conselheiros.

Sem acesso às investigações, Marianna tem tomado conhecimento de tudo apenas pela imprensa. De perfil reservado e técnico, tem sido ainda mais cautelosa: não se autointitula presidente interina nos comunicados do tribunal de jeito nenhum, embora seja essa sua função. Na última terça-feira, ela comandou a primeira sessão do TCE-RJ desde as prisões. Mas, sem saber qual será o futuro e para evitar qualquer acusação de oportunismo, mudou o encontro para um outro plenário que não o habitual. Ela não queria sentar na cadeira do presidente e nem que os conselheiros substitutos — escolhidos entre técnicos do tribunal — se sentassem nos lugares dos titulares presos. Ontem, o Superior Tribunal de Justiça determinou a soltura dos conselheiros, que, no entanto, foram afastados por seis meses.

O plenário escolhido por Marianna na terça-feira era menor e ficou lotado, pela imprensa e por muitos funcionários do tribunal, curiosos para saber se haveria algum tipo de pronunciamento dela. Durante uma hora e meia de duração das duas sessões do dia, a conselheira não teceu nenhum comentário sobre a situação surreal atravessada pelo TCE-RJ. A discrição desses últimos dias foi sempre sua companheira no longo caminho até tornar-se a primeira mulher a ocupar o cargo de conselheira da corte desde a redemocratização. Marianna está no TCE-RJ desde dezembro de 2006, quando ingressou no Ministério Público que atua junto ao tribunal. Antes, já tinha sido procuradora do estado. Foi depois do concurso para entrar no tribunal, para o qual ela passou em segundo lugar, que conheceu o marido, Flávio Willeman, também procurador. A conselheira é filha do presidente do Tribunal de Contas do Município do Rio (TCM-RJ), Thiers Montebello.

Conselheira evita sentar na cadeira do presidente do tribunal e não faz comentários sobre a prisão dos colegas

O globo, n.30560 , 08/04/2017. País, p. 6