Odebrecht: Dilma foi avisada sobre propina 

15/04/2017

 

 

Empreiteiro afirma que a ex-presidente sabia de pagamentos a PT e PMDB por contratos da Petrobras

Marcelo Odebrecht, dono da empresa, disse que contou à então presidente Dilma que pagara propina a PMDB e PT por contrato na Petrobras. Dilma sempre negou que soubesse. Ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht afirmou, em delação premiada, que avisou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a ex-presidente da Petrobras Graça Foster sobre pagamentos de propina a políticos do PT e do PMDB por contratos firmados com a empresa.

O delator narrou um encontro com Graça Foster em que contou que a empresa pagou propina relacionada a um contrato de prestação de serviços ambientais em dez países, no valor de US$ 840 milhões. A negociação teria acontecido em 2010 com a diretoria internacional da Petrobras, e o acerto, concretizado, segundo Marcelo, entre o ex-diretor da empresa Márcio Faria e os então deputados peemedebistas Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN).

Segundo Marcelo Odebrecht, a ex-presidente da Petrobras determinou uma investigação interna sobre o contrato, já que havia desconfiança do PT sobre o pagamento de propina para o PMDB. Após a sindicância, o valor do contrato foi reduzido em 43%. As informações apuradas foram enviadas ao Ministério Público, o que contrariou o empresário.

O executivo disse ainda que recebeu uma ligação de Graça Foster, que o questionou sobre o pagamento ao PMDB. Ele teria procurado Márcio Faria, que garantiu que o PT também havia recebido um repasse, também fruto do desvio no contrato. Com a resposta, Marcelo se reuniu com Graça em um hotel em São Paulo:

— Não vou mentir para você. O PT sabia. O Márcio (Faria) me disse que o (João) Vaccari (então tesoureiro do partido) sabia e também recebeu uma parte — teria dito o empresário à ex-presidente da Petrobras durante a reunião.

O empreiteiro disse aos procuradores que sua relação com Graça Foster piorou depois da reunião, incluindo uma troca de e-mails com acusações, que o próprio Marcelo teria enviado a Dilma Rousseff. Na tentativa de mediar o conflito, a ex-presidente teria recebido Marcelo no Palácio do Planalto. Segundo o delator, no encontro, Dilma manifestou preocupação que seu vice, Michel Temer, estivesse envolvido com a propina:

— Ela queria saber se Michel estava envolvido — afirmou o delator.

Marcelo Odebrecht e um ex-diretor da empresa, Cláudio Mello Filho, que também é delator na Lava-Jato, teriam avisado a Temer da desconfiança de Dilma. O empreiteiro afirmou que a propina ao PMDB teria chegado a R$ 10,2 milhões.

PREOCUPAÇÃO COM DEPÓSITOS A JOÃO SANTANA

Depois disso, com medo da Lava-Jato, Marcelo Odebrecht fez périplo por vários petistas próximos à ex-presidente Dilma Rousseff para alertar sobre a possibilidade de a operação chegar a depósitos da construtora em contas do marqueteiro João Santana no exterior. O relato é feito em trecho da delação premiada, em que ele diz ter levado planilha com os valores repassados a “Feira”, como o marqueteiro era chamado na empresa, preocupado com a possibilidade de os depósitos “contaminarem” as investigações.

O empresário relata que procurou vários petistas ligados à então presidente para relatar a existência dos depósitos no exterior.

— Levei esse tema ao (Fernando) Pimentel. Mostrei a planilha a Pimentel, porque sabia que ele tinha acesso à Dilma. Levei ao Giles (Azevedo), levei ao (Antonio) Palocci, levei ao Guido (Mantega). Levei a quem podia e dizia: “isso aqui vai contaminar”.

Marcelo diz que pediu a subordinados, em 2014, a relação de depósitos da construtora a João Santana para saber qual o nível de “exposição” da Odebrecht na Lava-Jato. Aos procuradores, ele demonstrou ter ficado assustado ao saber dos depósitos no exterior. Relatou ainda que procurou a mulher do marqueteiro, Mônica Moura, para saber mais detalhes sobre os repasses.

ENCONTRO COM MULHER DE JOÃO SANTANA

Segundo ele, o encontro com Mônica ocorreu na casa dele e foi o primeiro contato direto entre os dois. Na conversa, ela pediu que ele ficasse tranquilo, alegando que os depósitos que havia recebido fora do país “se referiam a serviços prestados no exterior”.

— Hoje, a gente sabe que uma parte dos depósitos (feitos no exterior) provavelmente era (também pagamento referente à campanha de Dilma). Eu disse a ela: “Olha, isso aí vai contaminar de qualquer maneira". Essa justificativa que ela deu, talvez, tenha sido a razão pela qual meus interlocutores nunca se mostraram preocupados — afirmou em depoimento.

__________________________________________________________________________________________________________

Cabral teria recebido R$ 50 milhões por contrato da Linha 4

Carolina Morand

15/04/2017
 
 
Ex-governador é citado em três das 22 petições remetidas à Justiça Federal do Rio

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) foi acusado de receber propinas que somam R$ 50,5 milhões da Odebrecht durante a execução do contrato de construção da Linha 4 do metrô. Ele foi citado por Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o executivo que comandava o setor de Operações Estruturadas da empresa, conhecido como o “departamento da propina”, em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF).

O próprio Benedicto afirmou também que a Odebrecht gastou R$ 120 milhões com Cabral e com o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB) — o valor teria sido repassado em forma de doações eleitorais via caixa dois para campanhas e de pagamento de propina para Cabral.

O ex-governador está envolvido em três das 22 petições remetidas à Justiça Federal do Rio pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram enviadas petições que citam o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) e os ex-governadores Anthony (PR) e Rosinha Garotinho (PR).

PEDIDO POR INCLUSÃO DA DELTA

Benedicto Júnior contou que a Odebrecht pediu ajuda a Cabral para entrar no consórcio da Linha 4. O grupo era liderado pela construtora Queiroz Galvão, e a Odebrecht tinha interesse em adquirir a participação de uma das empresas minoritárias, a Constran. No entanto, pelas regras do contrato, a Queiroz Galvão teria prioridade na compra, por ser a sócia majoritária. Benedicto Júnior disse, no depoimento, que pediu a Cabral que intercedesse a favor da Odebrecht.

— Fiz um pedido ao governador Sérgio Cabral se ele poderia ter uma conversa com alguém da Queiroz Galvão para que ela não exercesse, e que eu entrasse no consórcio. Eu não perguntei, não sei se ele fez o pedido, mas a Queiroz permitiu que eu adquirisse a participação da Constran e, a partir desse momento, a Odebrecht passou a ser sócia da concessionária — contou o delator.

O executivo revelou ainda que, no meio da execução da obra, as construtoras que participavam do consórcio — Odebrecht, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia — foram chamadas por Cabral. O ex-governador teria solicitado a inclusão no grupo de mais três empreiteiras: Andrade Gutierrez, OAS e Delta.

Benedicto Júnior afirmou que OAS e Andrade Gutierrez seriam bem-vindas, uma vez que a primeira era dona da concessionária Metrô Rio e a segunda é uma das empresas brasileiras com maior experiência em obras de metrô. No entanto, o consórcio resistiu à inclusão da Delta.

— Obviamente, restava um problema. Aceitar a entrada da Delta naquele momento era passar para a Delta uma capacitação de ser executora de metrô dali para a frente. (...) Criou-se um mal estar — revelou o Benedicto.

Depois de algumas conversas, segundo Benedicto Júnior, a entrada das três novas empreiteiras no consórcio acabou não se concretizando.

A Delta pertencia ao empresário Fernando Cavendish, amigo de Cabral. Outro delator da Odebrecht, o ex-executivo Marcos Vidigal também afirmou que Cabral atuou em favor da entrada da Delta no consórcio responsável pela reforma do Maracanã. Segundo ele, Cabral determinou que a construtora recebesse uma fatia de 30% do contrato.

Executivos da Andrade Gutierrez já haviam afirmado, também em delação premiada que o ex-governador teria atuado para incluir a empreiteira na reforma do Maracanã. Os advogados de Sérgio Cabral não foram encontrados para comentar as acusações. Ao programa “RJTV”, da TV Globo, a defesa afirmou que só vai se pronunciar nos autos da investigação.

91 PAGAMENTOS A JÚLIO LOPES

O ex-secretário estadual de Transportes do Rio Júlio Lopes (PP-RJ), hoje deputado federal, foi citado como destinatário de R$ 15,6 milhões. Segundo Benedicto Júnior, Lopes teria recebido 91 pagamentos entre 2008 e 2014. Ele nega. Lopes é alvo de um inquérito no STF instaurado por Fachin.

 

O globo, n. 30567, 15/04/2017. País, p. 6