Henrique Gomes Batista
08/04/2017
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, afirmou ontem em conferência em Boston que, se uma reforma política não ocorrer a tempo de ser utilizada para as eleições de 2018, o país poderá ser “entregue” ao crime organizado e a instituições como igrejas. Gilmar citou o Rio de Janeiro como símbolo de estado dominado pela corrupção. Gilmar fez coro com outros políticos, que recentemente usaram o estado como exemplo de caos administrativo.
— Acho que nem precisa descrever: milícias, tráfico de drogas e agora tudo isso que está acontecendo, envolvendo todos os poderes, Legislativo, Executivo, Tribunal de Contas. Se não houver interrupção neste processo, o Brasil será amanhã o grande Rio de Janeiro.
Gilmar afirmou que já há casos de três vereadores em São Paulo suspeitos de terem sido eleitos por uma facção criminosa, e que o prefeito de Embu das Artes (SP), por exemplo, é acusado de uma série de crimes.
— Vamos para a eleição de 2018 sem modelo específico. Só com doação das pessoas físicas, que no Brasil não têm tradição, e, muito provavelmente, vamos ficar entregues ao crime organizado, a pessoas que já trabalham no ilícito ou a algumas organizações que têm modo próprio de financiamento (igrejas), coisas assim. Corremos o risco de ter uma eleição muito distorcida — disse ele antes de participar de um debate sobre financiamento eleitoral em conferência sobre o Brasil, promovida pela Universidade de Harvard e pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)
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MARINA CHAMA REFORMA DE ABERRAÇÃO
Gilmar afirmou que nem mesmo o financiamento público de campanha pode resolver o problema. E deu um exemplo: se o valor for de R$ 5 bilhões e um terço ficar com as eleições para deputados federais e estaduais, haveria R$ 160 mil para candidatos federais e R$ 80 mil para estaduais, o que seria incompatível, em sua opinião.
O ministro acredita que antes de pensar no financiamento, é preciso decidir o modelo das eleições. Ele defendeu o voto distrital misto como uma forma de aumentar a representatividade e reduzir os custos. Gilmar ainda criticou a coligação em eleições proporcionais. Sem estas mudanças, acredita, continuará existindo o caixa 2.
— O sistema dá sinais de exaustão e não podemos prosseguir nele — afirmou o ministro. — Foi o nosso erro no Supremo ao decidirmos o financiamento sem discutirmos o sistema eleitoral, porque essas coisas são conjugadas. Uma precede a outra.
No mesmo evento, a ex-candidata a presidente e fundadora da Rede, Marina Silva, afirmou que a proposta da reforma política apresentada no Congresso é o contrário do que deseja o cidadão:
— Da forma como está posta é para institucionalizar a aberração que está criada com a história da classe política.
O globo, n.30560 , 08/04/2017. País, p. 8