Ato sobre transposição vira comício de Lula

Allan Nascimento / Ricardo Galhardo / Julianna Granjeia

20/03/2017

 

 

Lula e Dilma participam de cerimônia de ‘inauguração popular’ da obra dias após a visita de Temer; evento é acompanhado por milhares de militantes

 

 

A cidade de Monteiro, no sertão da Paraíba, foi palco ontem do segundo ato político desde a chegada das águas do Rio São Francisco ao município. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, respectivamente idealizador e executora de parte das obras de transposição, visitaram a cidade para realizar o que foi batizado pelo PT como uma “inauguração popular”. O ato se transformou em um comício pela candidatura de Lula em 2018.

A obra do eixo leste (situado em Monteiro e o primeiro a ser concluído) foi oficialmente inaugurada pelo presidente Michel Temer no dia 10 deste mês, gerando reação entre petistas e aliados. Dilma, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e o próprio Lula fizeram referências à próxima eleição presidencial em seus discursos.

Milhares de militantes de vários Estados do Nordeste participaram do ato, que deixou interditado, desde o fim da manhã, os dois sentidos da BR-412 no acesso ao município.

A data escolhida para a cerimônia, 19 de março, carrega forte simbolismo para a religiosidade dos sertanejos, quando comemora- se o dia de São José – santo padroeiro de vários municípios da região e a quem os católicos recorrem para pedir chuvas.

A comitiva capitaneada pelo PT chegou a Monteiro por volta das 14h. Depois de uma breve passagem pelo canal, a comitiva seguiu em carreta para o palanque armado no centro da cidade – a agenda divulgada dias antes pelo PT previa que Dilma e Lula entrariam nas águas do São Francisco, ação que foi cancelada no sábado. “Fiquei pensando que eles (seus opositores) fariam imagem negativa”, justificou no discurso o ex-presidente ao falar sobre a desistência.

A caravana de políticos e autoridades contou com 15 senadores, dezenas de deputados, os presidentes do PT e do PCdoB, entre outros. Na praça, em uma cena típica de campanha eleitoral, camelôs vendiam camisetas com a inscrição “Lula 2018”. Além do coro de apoio ao petista, os presentes gritaram “Fora, Temer”.

 

‘Tapetão’. Dilma, a primeira a falar, classificou como “um segundo golpe” a possibilidade de Lula ser impedido de disputar a eleição. Ele é réu em cinco processos referentes à Lava Jato e seus desdobramentos e, se for condenado em primeira e segunda instâncias, pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. “No tapetão, não.” Em seu discurso, o próprio expresidente se referiu à possibilidade de ser candidato em 2018.

“Vocês sabem o que eles (adversários) estão tentando fazer com a esquerda neste País, fizeram com a Dilma e querem fazer comigo.

Se eles quiserem brigar comigo, que venham brigar nas ruas”, disse Lula. “Se eu for é para ganhar e trazer de volta a alegria deste País. Eu sei colocar o povo para sonhar com emprego e salário.”

 

Paraíba. Lula enche chapéu com água do Rio São Francisco

 

PARA LEMBRAR

‘Paternidade é do povo’

No último dia 10, o presidente Michel Temer visitou as obras de transposição do Rio São Francisco na Paraíba e em Pernambuco. Em meio à disputa pela paternidade do projeto, iniciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e executado durante a gestão de Dilma Rousseff, Temer afirmou que a paternidade do empreendimento é do “povo”. “Não quero a paternidade dessa obra, ninguém pode tê-la. A paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino”, disse. O presidente acrescentou que foi a população quem pagou “impostos ao longo do tempo para que pudéssemos fazer grandes investimentos”.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45079, 20/03/2017. Política, p. A7.