Inquérito vai apurar se dinheiro vivo facilitou contratos da Olimpíada

Luã Marinato

Tatiana Furtado

13/04/2017

 

 

Pedro Paulo é apontado como operador de recursos na campanha de 2012
 

O inquérito aberto para apurar o repasse de valores pela Odebrecht ao ex-prefeito Eduardo Paes e ao deputado federal Pedro Paulo, candidato derrotado à sucessão municipal, indica que a Odebrecht desembolsou R$ 16 milhões “interessada na facilitação de contratos relativos às Olimpíadas de 2016”, fazendo inclusive pagamentos em espécie na sede de uma agência de propaganda. Deste dinheiro, R$ 5 milhões teriam sido pagos em contas no exterior.

O pedido de abertura de inquérito aceito pelo ministro Edson Fachin traz o comprovante de uma transferência de US$ 1 milhão (cerca de R$ 3,1 milhões, em valores atuais), destinada a um banco em Portugal, que teria como beneficiário “Nervosinho”, codinome supostamente referente a Paes.

A informação consta na delação premiada de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, diretor da área de infraestrutura da empreiteira. No pedido encaminhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), Pedro Paulo, então coordenador da campanha de Paes à reeleição, em 2012, é apontado como o responsável por operacionalizar os repasses da Odebrecht. Segundo Benedicto, os pagamentos chegaram a ser feitos em espécie nos escritórios da Prole, que tem sede na Urca, na Zona Sul do Rio.

O documento aponta que a empresa realizou pagamentos à dupla do PMDB-RJ por intermédio da agência Prole, do marqueteiro Renato Pereira. Pereira foi responsável pelas campanhas dos dois alvos da investigação e também do exgovernador Sérgio Cabral, hoje preso, e do governador Luiz Fernando Pezão.

A delação dos executivos da Odebrecht aponta ainda uma segunda agência de publicidade envolvida nos repasses de dinheiro para Paes e Pedro Paulo. Segundo Leandro Andrade Azevedo, diretor de contratos da empreiteira, durante a campanha de 2010, após intermediação do então prefeito Eduardo Paes, Pedro Paulo recebeu aproximadamente R$ 3 milhões, sendo R$ 600 mil pagos via agência Apto Ponto Com. Os depoimentos de Pedro Guidoreni, sócio da agência, e de Renato Pereira estão entre os oito autorizados por Fachin no inquérito. Guidoreni preferiu não se pronunciar. Já Pereira foi procurado no início da noite, por telefone e e-mail, e não respondeu ao contato.

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MAIA: DE ‘BOTAFOGO’ A ‘VOLANTE’

O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) e seu pai, César Maia, ganharam novos apelidos nas planilhas da Odebrecht, anexadas a outro inquérito aberto por Fachin. Antes citado como “Botafogo”, em delação de Claudio Mello Filho, ex-diretor de Relações Internacionais da empreiteira, o presidente da Câmara dos Deputados aparece, agora, com o codinome “Volante” nos documentos. Já César é citado como “Déspota” e “Inca”.

Luiz Eduardo da Rocha Soares, funcionário do setor financeiro da Odebrecht, anexou à sua delação planilhas nas quais constam indícios de pagamentos ao presidente da Câmara e termos relacionados ao futebol. O nome de Rodrigo Maia aparece no campo “jogador”, do clube “Fluminense”, e na posição “volante”. Segundo o documento, o “valor de passe” do parlamentar seria 100.

De acordo com outra planilha apresentada, “Fluminense” e “volante” se referem ao Partido Democratas (DEM) e ao cargo de deputado federal, respectivamente. Esses pagamentos teriam sido feitos no período das eleições de 2014.

O globo, n. 30565, 13/04/2017. País, p. 5