Partidos e produtores da UE pedem barreira

Jamil Chade

20/03/2017

 

 

Pressão é grande para Comissão Europeia adotar medidas temporárias para barrar carne brasileira; caso deve ser discutido esta semana na OMC

 

 

Partidos políticos e produtores europeus pedem o fechamento das fronteiras do bloco à carne brasileira, elevando a pressão para que a Comissão Europeia adote medidas temporárias contra o produto nacional depois da revelação da fraude no setor de carnes. O apelo vem de setores e países com uma tradição protecionista e que, por anos, vem solicitando que Bruxelas derrube um acordo com o Brasil no setor de carnes.

Nesta semana, o caso deve chegar à Organização Mundial do Comércio. A entidade se reúne a partir de quarta-feira para debater temas fitossanitários num encontro que, coincidentemente, será presidido pelo diplomata brasileiro Felipe Hees.

Nesta agenda, fechada há dez dias, não constava nenhuma crítica à carne do Brasil. Mas a reportagem apurou que, desde a eclosão das denúncias, os principais parceiros comerciais se mobilizam para levantar o assunto durante a reunião. Diversos governos também indicaram que querem pedir reuniões bilaterais com o Brasil nesta semana para obter esclarecimentos sobre a fraude na carne.

O Itamaraty, junto com técnicos do Ministério da Agricultura, se prepara para dar uma resposta, trazendo os detalhes da investigação da Polícia Federal e tenta evitar um embargo. Mas, ao mesmo tempo, o governo vai insistir que o escândalo não envolveu exportações e vai bater na tecla de que foram as autoridades nacionais quem investigaram e puniram o esquema e, por isso, não tentam esconder o caso.

O Estado apurou que parlamentares e produtores europeus passaram o fim de semana tentando pressionar as autoridades europeias a rever seus planos de autorização de importação da carne nacional. Na sexta-feira, o Estado revelou que as maiores cooperativas agrícolas da Europa (Copa e Cogeca) usariam o caso para pressionar os diplomatas europeus a frear novas concessões ao Mercosul.

 

Pressão. A pressão sobre Bruxelas, porém, passou a ser real no domingo. Na Irlanda, o partido Sinn Féin foi um dos que apelaram para o fim das importações. O representante do partido para temas agrícolas, o deputado Martin Kenny, alertou que o caso brasileiro revela “as condições contra as quais os fazendeiros europeus precisam competir”. De acordo com o partido de oposição, o ministro da Agricultura da Irlanda, Michael Creed, precisa “imediatamente buscar uma suspensão da importação de carne do Brasil”. “A situação é intolerável”, disse.

Entre os produtores, o caso também está sendo usado para justificar novas barreiras. “Vemos outro escândalo fora das cercas da fazenda, não dentro, e mostra que precisamos ter um controle maior”, disse Edmund Phelan, presidente da ICSA, entidade que reúne os criadores de gado da Irlanda, um dos maiores fornecedores para a Europa.

Na Finlândia, o governo anunciou que iniciou uma investigação para avaliar se a carne que entrou no País cumpria as exigências de qualidade. Na Bélgica, a Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar se apressou a tentar dar garantias aos consumidores locais de que os controles impostos pelos europeus e o volume de importação limitariam qualquer risco.

 

Avanço sobre o bloco

Estudos da UE estimam que as exportações do Mercosul para a Europa podem crescer em ¤ 14 bilhões em dez anos, graças a um acordo comercial entre os blocos.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45079, 20/03/2017. Economia, p. B8.