Odebrecht diz que destinou R$ 40 milhões a Lula

Cleide Carvalho

Gustavo Schmitt

13/04/2017

 

 

Valor foi depositado em conta ‘Amigo’, que seria usada por orientação do ex-presidente, depois que Dilma assumiu o Planalto

 A delação de Marcelo Odebrecht complica a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, tornado público ontem, o empresário afirmou ter disponibilizado R$ 40 milhões na conta “Amigo”, a serem usados por orientação de Lula quando ele deixasse a Presidência. O valor fazia parte da conta corrente de propina para o PT, descrita na planilha “Posição Especial Italiano”. No total, o PT teria usado R$ 133,5 milhões.

Marcelo afirmou que, no fim do governo Lula, sabia que Dilma Roussef iria entrar na Presidência e que o saldo da conta passaria “a ser gerido por ela, a pedido dela”, mas que o ex-presidente manteria influência no PT.

— Botamos R$ 35 milhões no saldo Amigo, para uso que fosse de orientação de Lula. A gente entendia que Lula ainda ia ter influência no PT, como era uma relação nossa, com Presidência, PT, tudo se misturava. A gente botou R$ 40 milhões que viriam para atender demandas que viessem de Lula. O Lula nunca pediu diretamente, eu combinei via (o ex-ministro Antonio) Palocci — disse.

Ao juiz, Marcelo disse que a única comprovação que tem do uso do dinheiro por Lula foi a compra de um terreno para o Instituto Lula, cujo contato teria sido feito via (Paulo) Okamotto ou via o pecuarista José Carlos Bumlai. Como o Instituto Lula acabou não ficando com o prédio, o valor teria sido creditado novamente na conta. O aval para a retirada foi dado por Palocci.

Marcelo disse que em 2014 também foi feita uma doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula, cujo pedido chegou a ele por Alexandrino Alencar, então executivo da empresa. O valor também saiu da conta de propina.

O empresário mencionou ainda retiradas em espécie feitas por Branislav Kontic, assessor de Palocci. Relacionadas como Programa B, elas somam R$ 13 milhões. Segundo ele, pelo menos R$ 5 milhões retirados por “Brani” foram debitados do saldo da conta “Amigo”.

Fernando Miglicaccio, ex-executivo da Odebrecht, relatou a Moro que Branislav levava o dinheiro numa mochila:

— Bralisnav botava tudo na mochila, em espécie. Foram tantas vezes, nunca menos de um 1 milhão. Dependendo das notas, cabem de 2 a 3 milhões numa mochila.

Marcelo falou que recebeu dois pedidos de propina do PT, que abasteceram a conta “italiano”. Guido Mantega teria pedido R$ 50 milhões durante a negociação do ‘Refis da crise,’ que beneficiou a Braskem. Outros US$ 40 milhões foram pedidos pelo ex-ministro Paulo Bernardo, “por indicação de Lula”, e vinculados a um crédito de US$ 1 bilhão do BNDES para Angola, país contratante de serviços da Odebrecht. O valor foi renegociado com Palocci para US$ 36 milhões -pelo câmbio da época, R$ 64 milhões foram para o PT.

A defesa de Lula classificou a divulgação de delações da Odebrecht de “ilegal e sensacionalista”, com o objetivo de “manchar a imagem de Lula e comprometer sua reputação”. Disse ainda que Lula não praticou nenhum crime.

O globo, n.30565 , 13/04/2017. País, p. 6