Temer defende ‘fundamentalidade’ da reforma

Tiago Dantas 

05/04/2017

 

 

Presidente pede ajuda a empresários para divulgar ‘agenda de transformação’

-SÃO PAULO- Minimizando as reações à reforma da Previdência, o presidente Michel Temer afirmou ontem que servidores públicos e aposentados, que ganham mais de um salário mínimo, são os maiores opositores à proposta de reforma apresentada pelo governo. Durante almoço, em evento promovido pelo Bradesco BBI ontem, em São Paulo, Temer pediu o apoio de empresários e investidores para divulgar a “fundamentalidade” da mudança nas regras de aposentadoria propostas pelo governo.

— Cerca de 63% dos trabalhadores vão se aposentar com um salário mínimo. Há 37% que se rebelam contra a reforma, porque são aqueles, com a devida vênia, mais privilegiados, como servidores públicos ou que recebem mais de uma aposentadoria. E eles se insurgem contra a ideia de que todos devem se aposentar com critério etário — afirmou Temer.

Dirigindo-se a uma plateia formada por investidores e empresários que participavam do 4º Bradesco’s Brazil Investment Forum, Temer defendeu o que chamou de “agenda de transformação” do seu governo, citando a lei da terceirização e as reformas tributária, trabalhista e da Previdência. E pediu ajuda dos empresários para divulgá-las:

— Espero que cada um saia daqui e espalhe em todos os cantos e recantos que todas as reformas que estamos fazendo são fundamentais. Divulguem onde puderem a “fundamentalidade”, vou usar um neologismo aqui, dessa reforma da Previdência.

Temer pontuou seu discurso com críticas aos opositores dos projetos de seu governo, que acusou de divulgarem “inverdades”. Ele citou como exemplo a PEC que estipulou um teto para gastos públicos, que chegou a ser chamada de “PEC da morte” devido à limitação dos investimentos federais em áreas como saúde e educação por 20 anos.

— Conseguimos aprovar a PEC com apoio do Congresso. Quantos não disseram que essa medida afetaria saúde, educação. Era chamada de “PEC da morte”, porque seria para desfavorecer os menos favorecidos. Quando fizemos o Orçamento (de 2017) aumentamos R$ 10 bilhões para a educação e para a saúde, já usando a PEC como parâmetro. Muitos alardeavam que os pobres seriam apenados e isso não aconteceu — afirmou o presidente.

‘ADEQUAÇÕES COMPATÍVEIS’

Ao ser perguntado por jornalistas, depois do almoço com os empresários, sobre a falta de salvaguardas aos trabalhadores na terceirização, Temer afirmou que a maior parte dos direitos está garantida pela Constituição, que vale mais do que a lei por ele sancionada na sexta-feira. A terceirização, disse, não causará “um prejuízo sequer aos trabalhadores”:

— Sugiro que leiam o artigo sétimo da Constituição. Vocês vão ver que todos os direitos, décimo terceiro, férias, seguroacidente, Previdência... estão todos garantidos e estão na lei maior, que é a Constituição.

No fim do dia, na Laad Defesa e Segurança, no Rio, Temer voltou a falar sobre a reforma da Previdência. Ele disse que haverá “adequações compatíveis com aquelas que o Congresso está pensando”, mas assegurou que a reforma será feita.

 

O globo, n. 30557, 05/04/2017. Economia, p. 22