Setor de defesa terá crédito para exportação

Bruno Rosa e Jeferson Ribeiro 

05/04/2017

 

 

BNDES financiará até 100% da venda de equipamentos a outros países. Operações terão prazo de 25 anos

O BNDES financiará em até 100% as exportações do setor de defesa. O crédito irá para equipamentos, como caças e cargueiros, e não para armas e munição. O BNDES anunciou ontem o lançamento de uma linha de crédito para financiamento à exportação de equipamento de defesa. Os empréstimos terão prazo de 25 anos, com carência de cinco anos. Segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann, o objetivo da linha é criar condições de concorrência com outros países e estimular o desenvolvimento da indústria e a criação de empregos.

O Ministério da Defesa foi o mais afetado pelo contingenciamento de R$ 42,1 bilhões anunciado pelo governo para cumprir a meta fiscal deste ano.

— Com a linha, podemos equalizar a concorrência das empresas brasileiras com outras companhias. É preciso estabelecer uma política comercial para a Defesa. Estamos criando um grupo de Defesa dentro da Camex (de comércio exterior), que será dedicado a isso e poderá criar ações coordenadas nas exportações para fortalecer a indústria — disse o ministro, durante visita à Laad Defesa e Segurança, evento realizado no Riocentro, ao lado de representantes de países como Guiné Equatorial, Zimbábue, Mauritânia, Tunísia, Paraguai, Itália e Chile.

EMBRAER DEVE SE BENEFICIAR DO CRÉDITO

As taxas de juros serão definidas caso a caso, segundo a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques. Antes de os projetos chegarem ao banco, terão de passar pelo crivo do Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig), formado por Ministério do Planejamento, Fazenda e Casa Civil, entre outros. Os contratos de exportação poderão ser integralmente financiados. Hoje, há limite de 80% para financiamento de venda a outros países. A linha já está disponível para as empresas, mas não será permitido o financiamento de armamentos e munições, apenas de equipamentos de defesa, como helicópteros e cargueiros, entre outros.

Segundo fontes, os projetos só irão para o BNDES depois de passarem pela avaliação do governo, que vai analisar o risco do país que poderá receber o financiamento e os interesses políticos.

O financiamento será pago em dólar pelo país que contratar os produtos das empresas brasileiras, e o BNDES repassará em reais esses valores para as empresas.

O presidente da Embraer Defesa, Jackson Schneider, disse ao GLOBO que essa linha de financiamento deve alavancar a venda de produtos da empresa, que está em fase final de certificação do cargueiro KC-390, apontado pelo ministro da Defesa como um dos produtos que podem receber o crédito quando estiver apto a participar de concorrências internacionais. Segundo Schneider, há dez países em negociação com a Embraer para o cargueiro.

Maria Silvia disse ainda que o banco pretende financiar novos projetos de inovação na área de defesa, porém, não explicou se haveria condições melhores de empréstimo nesse caso:

— Nossa intenção é estruturar financiamento que seja compatível com as condições internacionais. São exportações diferentes das demais, porque são de país para país. Também podemos e queremos financiar a atividade produtiva da indústria internamente. Inovação, pesquisa e desenvolvimento são parte relevante da indústria.

Jungmann lembrou que as novidades são uma ação conjunta dos ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia:

— O objetivo é aumentar a competitividade da indústria de defesa e aumentar a venda de equipamentos e serviços militares, pois isso ocorre entre países. A indústria de defesa não segue as regras do Organização Mundial do Comércio, por isso há muitos incentivos dos países. É preciso ousar e desenvolver uma indústria que é capaz de gerar emprego. Hoje, a indústria de defesa representa 3,7% do Produto Interno Bruto e gera mais de 30 mil empregos diretos e 120 mil indiretos.

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Banco vai compartilhar garantias em projetos de infraestrutura

Ana Paula Ribeiro

05/04/2017

 

 

Objetivo é dar mais agilidade à liberação de recursos para empresas responsáveis por obras

-SÃO PAULO- O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lança, na próxima semana, um programa de compartilhamento de garantias em financiamentos de projetos de infraestrutura. O objetivo é facilitar e dar mais agilidade à liberação de recursos para as empresas responsáveis pelas obras.

— O BNDES tem garantias nos projetos e nunca compartilhou isso com os demais bancos fiadores. Estamos estabelecendo condições para isso — disse a presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, em evento organizado pelo Bradesco BBI em São Paulo.

A executiva explicou que esse compartilhamento será válido para a fase de execução das obras. Nessa operação, além da análise do projeto, o banco também pede garantias (em geral, ativos da empresa) para liberar os recursos do financiamento.

Maria Silvia não detalhou como vai funcionar esse mecanismo, mas indicou que haverá uma contrapartida por parte dos bancos que o usarem.

— Por exemplo, se o consórcio de bancos privados estenderem suas garantias em ao menos 40% do valor do projeto, vamos aceitar compartilhar as nossas garantias com ele. Isso vai ajudar na financiabilidade dos projetos — explicou.

João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho, observa que algumas empresas, ao tomar crédito com mais de um banco, chegam a ficar sem garantias para novas operações. A outra opção seria optar pela fiança bancária, quando uma instituição garante que seu cliente pagará o empréstimo a outro banco. Essa, porém, é uma operação cara, que, em muitos casos, inviabiliza os investimentos:

— As garantias são o processo mais difícil no financiamento de um projeto. Se não tem garantia, vai para a fiança, que é cara.

CAPTAÇÃO EXTERNA

Maria Silvia afirmou, ainda, que o BNDES provavelmente fará uma captação externa neste ano e reafirmou que o Tesouro Nacional não fará mais aportes na instituição.

— Possivelmente vamos fazer esse ano. O BNDES sempre utilizou recursos de mercado e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Os recursos do Tesouro foram exceção — disse.

Ela lembrou que o BNDES reduzirá os financiamentos referenciados à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mais baixa que as de mercado. Empréstimos com esse custo chegarão, no máximo, a 80% do projeto, a depender da área. Nessa nova política, saúde e educação terão essa cobertura maior.

 

O globo, n. 30557, 05/04/2017. Economia, p. 24