Valor econômico, v. 17, n. 4226, 31/03/2017. Política, p. A9

Picciani defende-se da tribuna da Assembleia

 

Robson Sales
 

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB), usou a tribuna do plenário da Casa para se defender das acusações de que seria um dos articuladores do pagamento de propina a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ).

Fora da cadeira de presidente da Casa, onde sempre chefia as sessões parlamentares, preferiu fazer o pronunciamento do púlpito, de pé. Disse que "não tem nenhum constrangimento" em presidir a Assembleia: "Não cometi nenhum ato ilegal e nenhum ato desonesto."

Picciani foi conduzido coercitivamente ontem à sede da Polícia Federal, no Rio, em uma ação de desdobramento da Lava-Jato. A Operação O Quinto do Ouro prendeu cinco conselheiros do TCE. Após afirmar que as denúncias eram frágeis, Picciani contra-atacou: "Eu tenho que responder à sociedade, esse delator colocou em xeque o meu nome, a minha família."

Picciani disse que respondeu a duas ou três perguntas da PF, em cerca de uma hora de depoimento, e que a condução coercitiva foi realizada de forma "profissional". "Nada temia, nada devo e não tenho porque ter medo de insinuação de delator", defendeu-se. A operação foi deflagrada a partir da delação premiada do ex-presidente do TCE Jonas Lopes.

Picciani disse ainda que nunca interferiu no Executivo estadual e nem no governo federal. "A minha força sempre foi política, nunca quis ter ingerência [no Executivo], nunca indiquei um cargo no Poder Executivo estadual ou no Poder Executivo federal". Um dos filhos de Picciani, Leonardo Picciani (PMDB-RJ) é ministro do Esporte.

Em comunicado entregue a jornalistas, Picciani negou que o projeto de lei que alterou as regras do Bilhete Único Intermunicipal (BUI) tenha sido aprovado para beneficiar as empresas de ônibus da região metropolitana.

Reportagem do jornal "O Globo" aponta que o projeto de lei do fim do ano passado abriu caminho para as empresas de ônibus receberem R$ 90 milhões em créditos do vale transporte pagos pelos passageiros. De acordo com a matéria, a lei aprovada pelo parlamento fluminense teria desobrigado empresários a devolver os valores não utilizados após um ano. Segundo o comunicado da Assembleia, o texto sancionado no dia 19 de dezembro de 2016 "incluiu um item determinando que o saldo remanescente dos cartões de transporte, acumulado após um ano sem uso, fosse destinado ao Fundo Estadual de Transporte [criado em 2007 para financiar programas de investimento em infraestrutura de transportes]. Ou seja, exatamente o contrário do que a reportagem sugere".

Ainda de acordo com a nota da Assembleia, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) vetou o artigo sob a alegação de os recursos pertencem a empresas privadas que pagaram pelo Bilhete Único de seus empregados.