Presidente diz que não houve recuo, mas sim negociação

Letícia Fernandes

Geralda Doca

Bárbara Nascimento

07/04/2017

 

 

Temer: alterações no Congresso refletem ‘aspirações populares’

As repercussões negativas após o anúncio de que pontos da proposta de reforma da Previdência que está no Congresso, como a aposentadoria rural e o benefício de prestação continuada (BPC), iriam mudar levaram o governo a garantir que não houve recuo. Segundo o presidente Michel Temer, um de seus objetivos foi atender aos anseios da população:

— Prestar obediência ao que o Congresso Nacional sugere, o Congresso que é o centro das aspirações populares, não pode ser considerado um recuo. Nós estamos trabalhando conjugadamente.

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‘SEM ESPAÇO PARA PRIVILÉGIOS’

Dos pontos de maior tensão no Congresso, Temer disse ter se sensibilizado com as especificidades do trabalhador rural e explicou que o governo viu que não seria adequado mudar os benefícios dos deficientes físicos. Ele citou ainda a idade mínima como um dos principais pontos, que o governo não está disposto a negociar:

— O problema central é o problema da idade. A questão do trabalhador rural, eu recebi muitas observações, e nos sensibilizamos por isso. Da mesma maneira o BPC, vimos logo que seria inadequado que eles não tivessem o que têm hoje. Então autorizei o relator a fazer as negociações que fossem necessárias, e depois anunciaremos perante o Congresso o que foi ajustado. Vai levar uns dias ainda, mas já está autorizado.

O presidente afirmou que ainda será preciso analisar se algumas das flexibilizações autorizadas terão repercussão fiscal. Segundo ele, “aparentemente, não”.

No início da noite, Temer divulgou um vídeo em defesa da proposta do governo. Na gravação, disse que a reforma será mais justa com os pobres e que nem os políticos nem os servidores públicos terão aposentadorias especiais.

— Estamos fazendo uma reforma que trará mais igualdade para todos. A Previdência será mais justa com os mais pobres. E mais rígida com os mais ricos. Por exemplo, políticos não terão mais aposentadoria especial. Nem servidores públicos. Nosso país não tem mais espaço para privilégios — garantiu.

Temer argumentou que os fundamentos da reforma foram mantidos. Citou a idade mínima de 65 anos e o aumento do tempo de contribuição, de 15 para 25 anos. E voltou a dizer que, sem a reforma, o país não voltará a crescer e gerar empregos para “tantos milhões de desempregados”:

— Não podemos ficar parados diante desse problema que cresce a cada minuto. Estamos trabalhando para fazer um futuro melhor para todos os brasileiros.

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‘PRESERVAM AJUSTE FISCAL’

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou em nota que as mudanças no projeto de reforma da Previdência são resultado de um avanço na construção de um consenso e “preservam o ajuste fiscal”. Ele ressaltou que a proposta original era “capaz de enfrentar os gargalos e as injustiças do atual sistema”, mas ponderou que a palavra final é do Legislativo.

“Hoje, o governo avançou na construção de um consenso visando à aprovação da reforma da Previdência. As mudanças mantêm os principais objetivos da proposta enviada ao Congresso porque preservam o ajuste fiscal e beneficiam os mais pobres”, afirmou Meirelles na nota.

O globo, n.30559 , 07/04/2017. Economia, p. 20