ENTREVISTA - Paulo Tafner

Lucianne Carneiro

07/04/2017

 

 

‘É um retrocesso, estamos andando para trás’

Professor da Universidade Candido Mendes, o especialista em previdência acredita que adotar idade mínima progressiva de 55 anos para mulheres e 57 para homens pode levar a dívida pública a crescer de tal forma que o governo não conseguirá pagar, o que será ‘uma hecatombe’

 

LUCIANNE CARNEIRO

Segundo o economista Paulo Tafner, se a medida for aprovada, o país pode acabar dando calote, diante da impossibilidade de arcar com os pagamentos da dívida pública. Apesar de ser um defensor da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, Tafner admite que a negociação de uma idade mínima progressiva pode ser um caminho para viabilizar a aprovação da reforma. Na sua avaliação, no entanto, o corte mínimo de idade deveria ser de 58 anos para mulheres e 60 anos para homens.

 

Como vê a negociação de uma idade mínima progressiva para aposentadoria a partir de 57 anos (homens) e 55 anos (mulheres)?

Uma idade mínima progressiva que comece com 55 anos para mulheres e 57 anos para homens é permissiva demais. É muito pouco dada a atual situação fiscal do país. Pode melhorar o cenário, mas está longe de equacionar os problemas fiscais da Previdência. Daqui a pouco, teremos atraso nos pagamentos, como já está ocorrendo em alguns estados. Isso poderia ter sido proposto anos atrás, mas agora temos muito pouco tempo. Não dá para imaginar que o país possa ter um déficit do tamanho que se vê. Todo mundo percebe que a dívida pública vai crescer de uma forma que o governo não conseguirá pagar, vai dar calote, e aí vai ser uma hecatombe.

 

Qual é o principal problema?

Essa proposta de 55 anos e 57 anos faz coceguinhas, até porque já existe uma regra para o servidor que é mais que isso. É um retrocesso, estamos andando para trás. O servidor público hoje já tem uma idade mínima de 55 anos (mulheres) e 60 anos (homens). Pelo que se discute, estamos reduzindo a idade mínima de 65 anos anos para 57 anos, é uma diferença de oito anos, é muita coisa. É uma ideia de quem está trocando meia dúzia de votos por uma crise sem precedentes. Isso compromete seriamente os ganhos com a reforma da Previdência.

 

Lamentavelmente estamos pressionados pelo calendário político, com as eleições de 2018. Qual pode ser o custo para a economia?

Não aprovar a reforma da Previdência ou aprovar uma reforma desidratada vai ter custos econômicos expressivos. Pelos meus cálculos, se aprovarmos a proposta do governo na sua totalidade, como foi apresentada inicialmente, será possível reduzir as despesas do sistema previdenciário brasileiro em 32% até 2060. Mas os ganhos começam antes, já na década de 30 é possível economizar quase 25%. O déficit da Previdência está hoje em cerca de R$ 220 bilhões. Uma economia de 32% é algo perto de R$ 70 bilhões lá em 2060. E esse valor é por ano, é quanto o governo vai deixar de gastar por ano. Se flexibiliza e desidrata, quanto vamos economizar? O resultado é muito menor, o ganho fiscal seria residual.

 

Mas a negociação de idade mínima progressiva pode ser um caminho?

A idade progressiva pode ser um caminho. Tendo a crer que pode ser interessante, a política exige negociação. Se o entendimento político é de que não dá para aprovar a idade mínima de 65 anos, pode fazer uma idade progressiva, mas numa base razoável. Não pode ser uma medida cujo resultado fiscal seja tênue, que não contenha a trajetória da dívida.

 

O que seria razoável?

Uma idade mínima que comece em 60 anos para homens e 58 anos para mulheres e vá subindo aos poucos. Assim, em um período de dez, 15 anos, chegaríamos aos 65 anos de idade mínima para todos.

O globo, n.30559 , 07/04/2017. Economia, p.22